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“Tehran Times” espera um “novo alinhamento estratégico” Irão-Iraque contra Israel

Segundo o jornal iraniano, Bagdad e Teerão chegaram a um acordo de segurança que visa prevenir “qualquer violação do espaço aéreo iraquiano pelos Estados Unidos e Israel”.

O jornal iraniano “Tehran Times”, órgão próximo do establishment político-religioso de Teerão e considerado porta-voz das posições oficiais da República Islâmica, publicou um artigo no qual anuncia o fim da “segurança israelita nos céus iraquianos” graças a um alegado “novo alinhamento estratégico” entre o Irão e o Iraque. O artigo, com um tom marcadamente propagandístico, afirma que Bagdad e Teerão chegaram a um acordo de segurança destinado a prevenir “qualquer violação do espaço aéreo iraquiano pelos Estados Unidos e Israel”. No artigo, o “Tehran Times” relata uma conversa telefônica entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o primeiro-ministro iraquiano Mohammed Shia al Sudani, durante o qual Washington alegadamente pediu a Bagdad que “se distanciasse do Irão” e desarmasse as milícias das Forças de Mobilização Popular (PMU), formações xiitas nascidas durante a guerra contra o ISIS e ainda ligadas a Teerão. Ao mesmo tempo, segundo o jornal iraniano, o conselheiro de segurança nacional iraquiano Qasim al Araji ele viajaria a Teerã para se encontrar com altos funcionários iranianos e assegurar-lhes que “a segurança do Irã é parte integrante da segurança do Iraque”. O Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano Abbas Araghchi, Citado pelo jornal, descreveu as reuniões como “positivas e construtivas”, sublinhando que “os nossos amigos iraquianos não permitirão que os inimigos do Irão utilizem o seu espaço aéreo”.

Por detrás desta história, contudo, podemos vislumbrar objectivos políticos internos iranianos e regionais. O tom do artigo reflecte a vontade de Teerão de flexibilizar os seus músculos à medida que a sua liderança fica sob crescente pressão económica e política. Por detrás desta história, contudo, podemos vislumbrar objectivos políticos internos iranianos e regionais. Confirmando esta fragilidade emergente, nos últimos dias no Irão a divulgação de um vídeo mostrando Ali Shamkhani, ex-secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional e general do Pasdaran, acompanhando a sua filha vestida de ocidental ao altar num dos hotéis mais exclusivos de Teerão. O vídeo, publicado meses depois da cerimónia, tornou-se um caso político e um símbolo de uma feroz luta pelo poder dentro do regime, numa altura em que a República Islâmica parece dividida entre a rigidez ideológica e uma crise de consenso. Shamkhani – considerada próxima da rede económica Pasdaran e centro de negócios ligados à venda de armas à Rússia – representa uma das facções mais influentes mas também mais controversas do aparelho iraniano, num contexto de conflito crescente entre elites militares, religiosas e económicas pelo controlo dos recursos e da direcção política do país.

A afirmação do “Tehran Times” segundo a qual “Israel já não estará seguro nos céus iraquianos” parece não ter qualquer base operacional, considerando que o espaço aéreo iraquiano é de facto controlado por uma densa presença de radares e sistemas de vigilância coordenados com a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos. A publicação do artigo no “Tehran Times” insere-se numa estratégia de comunicação que visa fortalecer a narrativa do chamado “Eixo da Resistência” – que inclui o Irão, o Hezbollah, algumas facções iraquianas e os rebeldes Houthi – numa altura em que Teerão teme uma redução da sua influência em Bagdad, especialmente depois da pressão americana para reduzir a dependência energética do Iraque em relação ao Irão. O artigo também surge poucas semanas antes das eleições parlamentares iraquianas, nas quais as forças pró-Irão pretendem consolidar a sua posição num contexto político cada vez mais fragmentado.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.