Nos últimos anos, nada menos que 10.000 soldados centro-africanos foram treinados por instrutores russos
O Presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touaderavisita Moscovo com o objectivo de reforçar as relações de cooperação económica e militar com o seu mais precioso aliado, a Rússia, num momento de forte mudança no equilíbrio em todo o continente. O chefe de Estado africano é o primeiro a ser recebido no Kremlin este ano. A reunião teve lugar hoje, 16 de Janeiro, e a conversa centrou-se nas perspectivas de desenvolvimento da cooperação bilateral nos domínios político, comercial, económico e humanitário, bem como em questões da agenda internacional e regional. Além disso, já na véspera da reunião, o porta-voz do Kremlin Dimitr Peskov ele tinha dito explicitamente que a Rússia e a República Centro-Africana estão a desenvolver relações em todos os sectores: prova disso é o memorando sobre a gestão e exploração dos recursos naturais assinado com Moscovo na véspera da reunião entre os dois presidentes pelo Ministério Centro-Africano de Minas.
Segundo o Kremlin, durante o encontro entre os dois presidentes – que decorreu primeiro na presença das respectivas delegações, depois num formato limitado – Touadera agradeceu a Moscovo o apoio dado através do envio de fornecimentos de cereais e combustíveis, sublinhando que Bangui considera A “prioridade” é a cooperação existente nos sectores da segurança, economia, agricultura, mineração, pecuária e energia. Por sua vez, Putin sublinhou que no último ano o comércio entre a Rússia e a República Centro-Africana “aumentou quase oito vezes”, e garantiu que a Rússia “está pronta para continuar a prestar assistência humanitária” ao país africano. “Trata-se principalmente de fornecimento de alimentos, especialmente trigo. Estamos prontos para continuar a cooperação neste sentido”, disse o presidente russo. Sobre os laços comerciais e económicos entre os dois países, Putin observou que “os valores absolutos ainda não são grandes” mas que estas são tendências de melhoria, garantindo que os índices “não são negativos”. Ao chegar, Touadera foi recebido pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Bogdanovbem como o embaixador da República Centro-Africana em Moscovo, Léon Dodonou-Pounagaza.
Contudo, é sobretudo no domínio militar que convergem os interesses entre os dois países. Nos últimos anos, nada menos que 10 mil soldados centro-africanos foram treinados por instrutores russos. Acima de tudo, em Abril passado, Touadera levantou a possibilidade de instalar uma base militar russa no leste do país, após a já acordada retirada das forças francesas e norte-americanas. Não há menção à nova base nos comunicados de imprensa oficiais emitidos por Moscovo e Bangui, mas é muito provável que a hipótese tenha encontrado amplo espaço durante o confronto entre Putin e Touadera. A visita deste último a Moscovo ocorre também depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter decidido, em Julho passado, levantar completamente o embargo de armas imposto ao país desde 2013, e dois meses depois do levantamento das restrições às exportações de diamantes extraídos na República Centro-Africana.
Nessa ocasião, Touadera agradeceu explicitamente a Moscovo, sublinhando em particular os esforços do Ministro das Finanças Anton Siluanov e peritos russos que operam na República Centro-Africana. A referência vai para os instrutores do antigo grupo paramilitar russo Wagner, mais tarde renomeado Africa Corps, responsáveis por garantir a segurança pessoal do presidente centro-africano face às atividades rebeldes. Em 2020, ex-mercenários russos de Wagner repeliram o cerco da milícia a Bangui e desde então tornaram-se o principal parceiro de segurança do governo centro-africano. Touadera e Putin já se tinham reunido à margem da cimeira Rússia-África, em Julho de 2023, em São Petersburgo. Segundo a embaixada russa em Bangui, esta nova visita de Touadera “promete ser um passo importante no caminho para o reforço da parceria bilateral” esperada em Novembro passado numa conversa telefónica entre os dois chefes de Estado, a concretizar-se principalmente na área da segurança. assuntos .