Você já se pegou sonhando em explorar outros sistemas solares, encontrar civilizações distantes ou escapar para Alpha Centauri em uma nave reluzente? Respire fundo: os números frios do Universo podem trazer um choque de realidade maior do que o salto para o hiperespaço do Star Wars. Prepare-se para repensar suas ambições interplanetárias: sair do nosso sistema solar pode estar muito, muito além do que gostaríamos de acreditar.
Luz: rápida, mas nem tanto (pelo menos no espaço)
No imaginário popular, nada supera a velocidade da luz. De fato, um fóton desliza a 299.792.458 metros por segundo, ou seja, cerca de 300.000 km/s. Parece instantâneo, não? Só que, no abismo cósmico, mesmo essa velocidade vertiginosa parece uma tartaruga apressada. A ficção científica adora burlar as regras: viagens mais rápidas que a luz, buracos de verme dignos de filmes como Interstellar, teletransporte em Hypérion… tudo vale para dobrar o espaço-tempo ao gosto do enredo. Mas, no Universo real, se afastar do quintal cósmico já é um desafio monumental.
Para trazer essa escala para um nível humano (e testar paciência de astronauta), o artista Josh Worth criou uma animação que simula a jornada da luz pelo Sistema Solar em linha reta. Surpresa: mesmo a 300.000 km/s, os famosos fótons não chegam instantaneamente nem a Mercúrio, nem à Terra, e muito menos a Plutão, o astro mais distante dessa animação.
Entre Sol e Plutão: um tempo digno de maratona (sem Netflix)
Já sabia que a luz do Sol demora cerca de oito minutos para alcançar a Terra? Fácil, todo mundo aprende isso. Mas já tentou esperar esses oito minutos, olhando um pontinho cruzar lentamente a tela, da estrela até nosso planeta azul? Josh Worth propõe essa experiência – paciência, tudo é relativo!
- O trajeto até Júpiter? Uns imponentes 43 minutos.
- Acha que aguenta? Para chegar a Urano, são 160 minutos (2 horas e 40 minutos!).
- Neptuno e Plutão: o suspense fica para você experimentar por conta própria.
Enquanto você observa esse quase nada entre um planeta e outro – e é realmente muito, muito nada mesmo – pequenas curiosidades aparecem na tela para ajudar a passar o tempo. Para os apressados, dois atalhos salvam vidas: um elevador horizontal para acelerar nos intervalos e um “teletransportador” em cada planeta para evitar o tédio absoluto.
E para quem gosta de conversão de unidades, as distâncias podem ser vistas também em quilômetros, milhas, unidades astronômicas, em ônibus, pixels, baleias azuis, Terras e até Grandes Muralhas da China. Se for para esperar, que seja com humor.
Ir além do Sistema Solar: missão (quase) impossível?
Importante lembrar: tudo isso é só no nosso Sistema Solar, que representa um minúsculo grão de poeira na galáxia — ela mesma, só uma entre bilhões de outras. Já o sistema estelar mais próximo do nosso, Alpha Centauri, fica a 4,37 anos-luz. Sim, anos. Agora imagine esperar essa viagem na animação: é o teste definitivo para quem considera fila de banco uma tortura.
Esse exercício nos ajuda a entender o tormento real que é atravessar o vazio espacial. Só para constar, a sonda Voyager 1, que deixou a Terra em 1977, viajou mais de 21,5 bilhões de quilômetros até 2019. Isso representa modestos 20 horas-luz, ou 144 vezes a distância da Terra ao Sol. E, pasme, mal passou a heliopausa, que é basicamente a porteira do Sistema Solar.
Nossas sondas movem-se apenas a uma fração mínima da velocidade da luz – mesmo lançando mão de todos os truques de física e assistência gravitacional das órbitas planetárias, verdadeiros estilingues cósmicos. A Voyager 1, apesar de sua façanha, viaja a 17 km/s e precisa de 40.000 anos para se encontrar com outra estrela (e a 1,6 ano-luz de distância!). Outras sondas fazem ainda menos: para chegar a outro sistema estelar, precisaríamos esperar… bastante tempo.
A sonda Parker Solar Probe, que bateu o recorde absoluto de objeto mais rápido já construído pela humanidade (147 km/s!), ainda assim levaria cerca de 9.000 anos para chegar até Alpha Centauri. E para voltar, o dobro (isso se você realmente pensar em fazer o caminho de volta… quem seria tão corajoso?).
O que isso significa para o futuro da exploração?
Desses números, surgem duas grandes reflexões:
- Não está nem um pouco garantido que a humanidade um dia conseguirá fugir dos limites do Sistema Solar. Com os meios atuais, só pensar em colonizar planetas vizinhos já é coisa para várias gerações. Alpha Centauri? Só com muita, mas muita fé em tecnologias futuristas, e olhe lá.
- A vastidão do espaço impõe isolamento, tanto para nós quanto para possíveis formas de vida extraterrestre. A não ser que existam civilizações absurdamente avançadas (nível Kardashev altíssimo), e que, convenhamos, deveriam deixar algum indício pelo caminho. Ou será que não sabem estacionar naves na Terra, estilo Roswell?
Esse dilema, aliás, é o coração do famoso paradoxo de Fermi. As distâncias inenarráveis do universo nos fazem repensar: podemos não estar sozinhos, mas estamos claramente isolados. Pelo menos até alguém descobrir um buraco de minhoca funcional ou aprender a dobrar o tecido do espaço-tempo sem violar metade das leis da física…
Enquanto isso, o melhor conselho prático: aproveite o nosso Sistema Solar. Afinal, ele é o maior espaço que conseguimos explorar – e que, até prova em contrário, ainda reserva seus bons mistérios.