Você já viu um agricultor enterrar uma cueca no meio do campo? Se respondeu não, prepare-se: essa história, além de real, tem tudo para fazer você olhar para a sua roupa íntima (e para sua salada) de um jeito diferente!
Por que diabos enterrar cuecas na plantação?
Pode parecer coisa de quem esqueceu o varal no lugar errado, mas não! Dezoito agricultores do departamento de Isère, na França, resolveram literalmente enterrar cuecas de algodão em suas terras. Não se trata de superstição agrícola nem de falta do que fazer. O objetivo desse ritual singelo? Testar a atividade biológica do solo de suas propriedades. Sim, a saúde do solo pode ser revelada pelo destino da cueca.
Esses agricultores fazem parte de um grupo que aposta nos benefícios do não revolvimento da terra e na redução de produtos fitossanitários. Enterraram as cuecas há três meses, cada uma cuidadosamente disposta em um canto do campo, esperando ansiosos pelo veredito da natureza. A técnica soa insólita, até cômica, mas – acredite – ela funciona. É quase uma aula prática de biologia mascarada de pegadinha de fazenda.
O resultado: do algodão ao nada – e isso é excelente!
Roland Badin, agricultor em Maubec (região de Isère, próximo de Bourgoin-Jallieu), faz parte do elenco desse experimento fora do comum. Membro do grupo Isère Sols Vivants, ele defende ardorosamente o não manejo mecânico do solo e a limitação dos adubos químicos. Foi assim que, em março, decidiu enterrar sua fiel cueca de algodão em um campo de trigo. Noventa dias e muita expectativa depois, chegou a hora da verdade.
Com bom humor, Roland declarou ao desenterrar a peça: “Enterramos uma cueca, agora é uma tanga!” Na verdade, nem isso: a cueca de algodão foi totalmente “degustada” pelos micro-organismos do solo. Restaram apenas detalhes sintéticos e o elástico. Para Roland, notícia melhor não existe – significa que o solo está vivo e saudável.
Há quinze anos Roland cuida de sua terra com práticas de conservação. Desde 2003 não ara mais, transporta apenas o grão e deixa a palha como cobertura. Para enriquecer, ainda utiliza esterco. Segundo ele, manter o solo coberto é fundamental para protegê-lo do sol e da chuva, garantindo a prosperidade dessa “vida invisível” que transforma cuecas em poeira.
O experimento ao lado: nem toda terra é igual
Outro vizinho de Maubec embarcou na experiência, também com uma cueca fornecida pela Câmara de Agricultura de Isère – não faltou padronização! Só que, ao final dos 90 dias, a peça dele ainda estava parcialmente intacta. O motivo ficou evidente: há menos micro-organismos, lombrigas, bactérias e companhia agitando o solo.
O próprio agricultor explica: “O mais lógico, porque ainda trabalho um pouco o solo. Com o trabalho mecânico, sabemos que destruímos esse tipo de vida!”. Moral da história: quanto mais o solo for revolvido com máquinas, menos micro-organismos sobrevivem para dar conta do seu vestuário enterrado.
Simples, visual e revelador – mas sem cientificismo
O experimento das cuecas teve coordenação de uma técnica da Câmara de Agricultura de Isère, que também lidera o grupo Isère Sols Vivants. Para Lætitia Masson, “não é algo científico, mas muito revelador”. Mais que isso: é visual e pode sensibilizar outros agricultores. Afinal, nada como ver sua própria cueca (ou a do vizinho) virar matéria orgânica diante dos olhos!
E o método vale para qualquer peça de algodão. Para comunicar a importância de solos vivos, o chamado “teste da cueca” é irresistível: não só eficaz, mas inusitado e fácil de apresentar – imagina só a conversa no bar da vila!
- O teste não precisa ser científico para ter impacto.
- É visual e fala direto ao agricultor, sem intermediários técnicos.
- Pode ser repetido com qualquer peça de algodão esquecida na gaveta.
Entre um plantio e outro, Paris recebe o Salão Internacional da Agricultura de 22 de fevereiro a 1º de março, com diversas propriedades de Isère presentes. Vai ser o momento perfeito para rever as novidades dos agricultores e, quem sabe, exibir algumas cuecas que já cumpriram sua missão… e viraram pó para um solo ainda mais fértil.
Se você é agricultor e ficou curioso (ou só busca um pretexto para substituir a gaveta de cuecas), não hesite: enterre uma peça de algodão e confira personalmente a “gastança” dos micro-organismos do seu solo. No mínimo, assunto para boas risadas não vai faltar!