O que realmente acontece no cérebro nos últimos instantes de vida? Prepare-se para mergulhar numa viagem fascinante pelo limiar da existência, onde o cérebro dá seu espetáculo final antes do grande silêncio. Spoiler: há muito mais ciência (e suspense) do que você imagina!
As ondas misteriosas do fim (e do recomeço)
Você já ouviu falar na “onda da morte”? Não, não é nome de grupo de rock, mas sim o termo escolhido para designar um curioso fenômeno elétrico identificado pelo professor de neurociências da Sorbonne, Stéphane Charpier, e sua equipe do Inserm no Instituto do Cérebro de Paris. Ele apresentará suas descobertas sobre essas tais “ondas da morte e da reanimação” em um encontro dedicado ao assunto. O que essas ondas revelam sobre o fim da vida? Muita coisa.
Ao estudar ratos, a equipe de Charpier bloqueou o suprimento de sangue oxigenado ao cérebro, simulando uma parada cardíaca, e depois realizou tentativas de reanimação. Foi assim que eles descobriram que a famosa onda da morte ocorre quando certas moléculas param de funcionar devido à falta de oxigênio. Os neurônios perdem a capacidade de manter a diferença de tensão elétrica entre dentro e fora de suas membranas, o que cria um “corpo estranho”: uma corrente elétrica lúgubre vagando pelo cérebro. Essa é a tal onda da morte. Poético? Nem tanto para quem está do lado de fora torcendo pela volta.
Da beira do abismo ao retorno improvável: a onda da reanimação
Se a história acabasse por aí, seria o fim. Mas ela continua. Quando a oxigenação cerebral é restabelecida com sucesso durante a reanimação, uma nova onda surge: a onda da reanimação. Essa onda aparece sempre que o cérebro consegue recuperar-se e, segundo as observações nos roedores, quando ela está presente, é garantia de retorno à atividade cerebral normal e de os neurônios recuperarem, aos poucos, suas funções elétricas “clássicas”. Um verdadeiro sinal (literalmente) de boas notícias!
Entre a vida e a morte: um processo nebuloso
Você já pensou que a passagem entre vida e morte seria um instante preciso, um clique decisivo? Pois saiba que não: esse limiar é bem mais turvo e estendido, algo como uma zona crepuscular que dura vários minutos. No início do processo, há um aumento de atividade elétrica — o que alguns cientistas consideram o famoso “canto do cisne” neural, potencialmente responsável pelas experiências de quase morte. Depois, essa atividade desacelera, até sumir, e então aparece (ahá!) a onda da morte. Se não houver intervenção, tudo termina aí: colapso total e morte cerebral. Agora, se alguém correndo contra o tempo consegue trazer a oxigenação de volta, a onda da reanimação surge e marca o renascimento do cérebro. Se ela não aparece? Sinto dizer, mas não há nada detectável nas atividades elétricas — a morte não tem um “instante zero” identificável no eletroencefalograma.
- Sem intervenção: atividade some, morte cerebral.
- Com reanimação e onda de reanimação: cérebro volta ao funcionamento.
- Sem onda de reanimação, mesmo que o coração bata: cérebro permanece inerte.
Por que isso importa? E o que esperar do futuro?
Segundo as pesquisas, a identificação dessas ondas pode ter aplicações vitais. Hoje, uma pessoa que sofre uma parada cardiorrespiratória tem poucas chances de sobreviver sem sequelas. Mesmo quando o coração volta a bater, o cérebro geralmente sofre danos sérios, resultado da falta de oxigênio. E aí, triste realidade: a pessoa pode ficar viva apenas artificialmente, com todos os órgãos funcionando — exceto o cérebro. Esse estado é chamado de morte cerebral.
Atualmente, médicos que realizam reanimações só monitoram, em tempo real, funções cardíacas e circulatórias. Sem pistas sobre como o cérebro está indo, o futuro do paciente é quase um tiro no escuro. O grande objetivo de Charpier e equipe, agora, é determinar marcadores que permitam saber, bem cedo, se o cérebro de um paciente vai se recuperar após a reanimação — e em que estado. Saber disso é um desafio de saúde pública, fundamental para prever prognósticos e tomar decisões.
O que já se sabe dos experimentos com roedores é contundente: se a onda de reanimação não surge, mesmo com o coração batendo, o cérebro não vai voltar à ativa. Será que isso vale também para pacientes humanos? O tempo (e a pesquisa) dirá.
Em resumo:
- Monitorar as ondas cerebrais junto com as funções cardiovasculares pode revolucionar o diagnóstico durante a reanimação.
- Não existe um “marcador mágico” da morte, nem instante zero — mas sim transições e sinais sutis que os cientistas estão começando a decifrar.
E aí, pronto para ver o cérebro de outra maneira? Quem sabe, no futuro, entender melhor essas ondas mágicas ajude a salvar vidas (ou, ao menos, evitar ressuscitar quem já não quer voltar!). Enquanto isso, a ciência segue escutando os sussurros elétricos do fim e do renascimento.