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O Grande Mufti do Cáucaso à Nova: “Somos um modelo de convivência, de grande amizade com o Vaticano e a Itália”

“As relações com a Santa Sé começaram com o líder nacional Heydar Aliyev. Foi ele quem quis a construção da primeira Igreja Católica em Baku”

“As relações com a Santa Sé – recorda o Grande Mufti – começaram com o líder nacional Heydar Aliyev. Foi ele quem quis a construção da primeira Igreja Católica em Baku, a Igreja da Imaculada Conceição, e quem convidou o então Papa João Paulo II para a bênção da pedra fundamental em 2002. O Papa Francisco também foi a Baku, e em 2016 participou num encontro com todos os líderes religiosos na Mesquita Heydar Aliyev”.

Já Bergoglio, nesta ocasião, teve a oportunidade de apreciar o clima multicultural de um país que quer ser um exemplo para outros na região e fora dela, com base – explica Pashazade – numa relação secular e pragmática entre Estado e religião, com amplas liberdades para as confissões tradicionais. “Construímos mesquitas, igrejas e sinagogas”, sublinha o Grande Mufti, recordando também a recente visita ao Vaticano do primeiro vice-presidente Mehriban Aliyeva: a fundação Heydar Aliyev presidida por ela financiou a restauração das catacumbas de Commodilla em Roma, “demonstrando a importância que atribuímos ao património de todas as religiões”. Vários projetos estão sendo preparados para o futuro. “Gostaríamos de ver aberta uma representação permanente da Santa Sé no Azerbaijão. Isto facilitaria novas iniciativas: conferências sobre o diálogo inter-religioso, inclusive no âmbito da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, mas também uma reunião sobre a islamofobia, naturalmente com a participação de representantes de todas as confissões”, acrescenta Pashazade.

O Grande Mufti observa como a mesma vivacidade caracteriza as relações entre o Azerbaijão e a Itália. “A Itália é um dos nossos amigos mais próximos e ajudou-nos muito a contar a nossa realidade no Ocidente. As relações económicas são do mais alto nível: os oleodutos e gasodutos partem do Azerbaijão e abastecem a Itália com energia, apesar – sublinha – algumas potências terem tentado no passado opor-se a esta cooperação”. Pashazade também se refere às mais recentes visitas mútuas de alto nível. A do Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, em Roma, em setembro de 2024, e sobretudo a do Presidente da República Sérgio Mattarella em Baku, no mês passado, sete anos após a estreia. “Conheci Mattarella pessoalmente em Baku – nota o clérigo muçulmano – e isso mostra como as relações também têm uma dimensão moral e espiritual”.

Grande Mufti do Cáucaso

Isto é ainda mais importante num cenário internacional marcado por crises e conflitos. Pashazade, “como homem de religião”, diz que sempre espera pela paz, olhando também para a situação com a vizinha Arménia. “Há trinta anos – afirma, referindo-se a Karabakh – nossos territórios estão sob ocupação. 65 das 67 mesquitas foram completamente arrasadas, mas monumentos cristãos também foram destruídos.

O Grande Mufti recorda ainda um episódio em que foi protagonista durante a primeira guerra de Karabakh, entre Janeiro de 1992 e Maio de 1994. “Reunimo-nos num hotel com o patriarca da Igreja Arménia e com o chefe da Igreja Ortodoxa Russa. nunca fiz isso – conclui Pashazade sorrindo – ele me disse para nunca mais prometer nada”.

Em agosto passado, com a mediação do presidente dos EUA Donald Trump, o presidente Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro Nikol Pashinyan eles iniciaram um acordo de paz para resolver um conflito que durava mais de trinta anos. O Grande Mufti expressa a esperança de que o acordo se mantenha, mas destaca a necessidade de todas as partes assumirem um compromisso total com a paz. O mesmo se aplica ao Médio Oriente e ao mundo árabe, com os quais Pashazade recorda as relações sólidas e “fraternas” do Azerbaijão. “Sempre fizemos parte do mundo islâmico – salienta o Grande Mufti – mesmo quando estávamos sob a União Soviética, cuja ideologia incluía o comunismo e o ateísmo. Na altura, apesar de toda a pressão das autoridades socialistas, o Azerbaijão enviou uma carta para aderir à Organização de Cooperação Islâmica. Um exemplo, segundo Pashazade, que ainda fala da atitude de abertura do país e das suas relações centenárias.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.