Imagine um ingrediente tão cobiçado na Roma Antiga quanto o chocolate é para nós atualmente. Do tipo que fazia imperadores esconderem reservas secretas, dava sabor a muitos pratos, perfumava festas e ainda prometia noites, digamos, inesquecíveis. Conheça o silphium, o afrodisíaco “secreto” de Júlio César, que desapareceu da história quase como num truque de mágica, deixando apenas dúvidas e moedas antigas como pista!
O que era, afinal, o silphium?
O silphium não era apenas uma simples erva: era praticamente uma celebridade no Império Romano. Utilizado em diversas funções, do perfume ao medicamento e, claro, como afrodisíaco, essa planta era tão versátil quanto irresistível. Diz-se que Júlio César, nada bobo, chegou a esconder mais de meia tonelada de silphium – só para garantir, vai que acaba! E acabou mesmo: menos de cinquenta anos depois desse estoque imperial, a planta simplesmente sumiu.
Se você pensa que silphium era consumido só como chá mirabolante, saiba que ele também dava origem a um condimento muito famoso chamado laser, presença garantida em inúmeros pratos da época. Ou seja, se houvesse masterchef na antiguidade, o silphium seria ingrediente obrigatório na “caixa misteriosa”.
Desaparecimento sem deixar rastros: clima, cabras e ambição
O sumiço do silphium intrigou tanto estudiosos modernos quanto antigos romanos. Seria culpa da colheita desenfreada ou do apetite voraz das ovelhas, que também achavam a planta uma delícia? Os pesquisadores Paul Pollaro e Paul Robertson, da Universidade de New Hampshire, foram investigar esse mistério digno de CSI.
Segundo eles, a teoria tradicional diz que o silphium foi extinto pela coleta excessiva e pelo gado. No entanto, os cientistas defendem outro culpado: o próprio clima. De acordo com Pollaro, “não importa quanto era colhido, com a mudança climática, a planta teria desaparecido de qualquer jeito”. Portanto, podemos dizer que o silphium foi, talvez, a primeira vítima documentada das alterações climáticas provocadas por humanos.
- O silphium crescia apenas na natureza, numa faixa de cerca de 48 km de largura por 200 km de comprimento, na antiga província romana da Cirenaica (hoje na Líbia).
- Gregos tentaram cultivá-lo desde o século VII a.C., sem nunca conseguir decifrar o clima exato que a planta exigia.
- As autoridades locais tentaram proteger sua área de crescimento cercando a região – esforços em vão, pois o clima local já havia mudado.
Quando cobiça leva ao desastre: o ciclo do silphium
A obsessão pelo silphium não era brincadeira. A planta virou símbolo, estampando até moedas (de um lado, o silphium, do outro, o próprio imperador ou algum deus). Sua importância era tanta que a economia da cidade de Cirene prosperou graças a ela. Mas o sucesso, nesse caso, foi a receita para a tragédia.
Pode-se dizer que o silphium foi vítima do próprio estrelato. Com a chegada de gregos e romanos à Cirenaica, as matas do planalto foram cortadas para dar lugar a casas. Essa desmatamento mexeu no ciclo de chuvas, aumentou a erosão dos morros onde o silphium brotava e transformou o microclima, inviabilizando o crescimento da planta. Tudo pelo progresso, claro – e também, talvez, por um prato mais saboroso e encontros mais quentes.
O recado da história – e do silphium – para o nosso presente
No final das contas, como alerta Pollaro, a importância do silphium foi, ironicamente, seu grande infortúnio. Sem ele, a riqueza local não teria sido a mesma, mas sua extinção serve de espelho para os perigos de superexploração e de arrogância frente à natureza. A lição não poderia ser mais atual: não somos tão diferentes dos romanos quando corremos atrás do próximo “ouro verde” sem olhar para os impactos. O silphium desapareceu, mas o aviso ficou – e esta é uma história que vale a pena saborear, sem moderação, para não acabarmos ficando apenas com lembranças perfumadas (ou moedas antigas) do que um dia foi abundante.