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Na Bolívia, no segundo turno presidencial, os dois candidatos conservadores Quiroga e Paz estão competindo

O resultado das eleições marcará o fim da esquerda que governou o país durante cerca de 20 anos com o Movimento Socialista

Hoje, domingo, 19 de outubro, votamos na Bolívia o segundo turno presidencial: com dois candidatos conservadores, o resultado das eleições marcará o fim da esquerda que governou o país durante cerca de 20 anos com o Movimento ao Socialismo (Mas). O ex-presidente está competindo Jorge “Tuto” Quirogapor Alianza Libre, e Rodrigo Pazdo Partido Democrata Cristão (Pdc). Duas figuras semelhantes em alguns aspectos, como a política externa: ambas propõem rever a relação com os Estados Unidos, derrubando a posição do país andino no continente latino-americano. Internamente terão que encontrar a receita certa para resolver a crise económica devido à escassez de dólares e de combustível, e evitar um cenário de fortes dissidências e mobilizações sociais. Na última pesquisa eleitoral, realizada pelo instituto Cismori uma semana após a votação, Quiroga aparece na liderança com 44,9 por cento dos votos, superando Paz a quem são atribuídos 36,5 por cento dos votos. Se Jorge “Tuto” Quiroga, ex-chefe de Estado entre 2001 e 2002, é conhecido dos cidadãos, Paz, candidato do Partido Democrata Cristão (Pdc) e antigo presidente da Câmara de Tarija, foi a verdadeira surpresa da primeira volta eleitoral. Em todas as sondagens realizadas antes da votação de Agosto, nunca ultrapassou os dez por cento, mas conseguiu captar a preferência do eleitorado rural, normalmente mal reflectido na análise política. O papel do seu vice, Edmer Lara, ex-tenente da polícia que ficou famoso por suas denúncias online contra a corrupção e a favor da transparência, também é avaliado como importante. O acontecimento eleitoral é também um dos mais observados a nível internacional: entre outras, estão presentes as missões de observação da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia. Aproximadamente 7,5 milhões de pessoas são chamadas a votar, além de 369 mil residentes no exterior em 22 países.

No último debate eleitoral, a 12 de outubro, os dois candidatos esclareceram a sua proposta política sobre questões centrais como a economia, a autonomia energética e a justiça. A visão económica de Paz está centrada no “capitalismo popular” e na descentralização, enquanto Quiroga defende a máxima abertura económica e a defesa do crédito estrangeiro e da propriedade individual. Paz reconhece que o Estado boliviano se encontra numa condição de “isolamento” económico, com crescimento bloqueado, e propôs uma amnistia fiscal e uma redução de impostos para reactivar a produção e oferecer apoio aos pequenos empresários. Um modelo definido como “capitalismo para todos”, que visa “redistribuir” os lucros em 50 por cento entre as regiões e o governo central. Paz sublinhou que o seu programa económico não inclui a colaboração com o Fundo Monetário Internacional (FMI), opção sugerida por Quiroga.

O antigo presidente – no cargo de 2001 a 2002 – ilustrou um plano de 12 mil milhões de dólares e três objectivos prioritários: eliminar filas de combustível, conter os preços elevados e “trazer dólares” para o país. Quiroga destacou a importância de receber “apoio internacional” do FMI e do Banco Mundial, mas também do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ambos, com soluções diferentes, apontaram a estabilidade como a principal necessidade da Bolívia. Paz defendeu a unidade nacional como um “antídoto à polarização” e prometeu “tolerância zero” contra o racismo, liberdade de circulação e respeito pela propriedade privada, bem como continuidade com bônus sociais, enquanto Quiroga apelou a não “desperdiçar gastos públicos” e a conter a inflação através da criação de empregos através de projetos de água potável e irrigação.

No tema justiça, o ex-presidente Quiroga propôs uma reforma “baseada na meritocracia” e na digitalização dos julgamentos, bem como penas cumulativas. Por sua vez, Paz apelou a “uma cimeira nacional para a reforma da justiça” e a maiores recursos financeiros para o sector. Além disso, Paz gostaria de modernizar a polícia nacional, tornando-a “mais profissional e transparente”. A questão da energia também foi abordada: enquanto Paz falava de uma lei sobre hidrocarbonetos, onde as regiões participam diretamente, e pedia a transformação da empresa nacional de hidrocarbonetos (YPff) numa empresa de serviços “livre de corrupção”. Sobre o tema do lítio, em particular, Paz traçou um modelo de investimento misto que também inclui a proteção ambiental e fortalece o turismo. Quiroga, no entanto, falou de um “renascimento energético” com a criação de uma indústria nacional de baterias de lítio e de uma “revolução de propriedade liberal” a ser implementada através da distribuição de 1,5 mil milhões de dólares em acções entre os cidadãos. Finalmente, o antigo chefe de Estado prometeu reduzir o IVA para 10 por cento.

Segundo dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), com uma margem de erro de 0,5 por cento, na primeira volta realizada a 17 de Agosto a participação eleitoral foi de 88,89 por cento: 6.464.043 eleitores entre 7.937.138 eleitores elegíveis. Segundo dados do TSE, Paz obteve um total de 1.717.532 preferências, o equivalente a 32,06 por cento dos habilitados a votar, enquanto Quiroga parou em 1.430.176 votos (26,7 por cento). Na terceira posição ficou o empresário Samuel Doria Medina, da Alleanza Unità, com 1.054.568 votos (19,69 por cento). Foi significativa a proporção de votos não atribuídos na primeira volta, excluídos do cálculo do resultado final mas potencialmente utilizáveis ​​na segunda volta: os votos inválidos foram 1.371.049, o equivalente a 19,87 por cento do total, enquanto 172.835 foram votos em branco (2,5 por cento).

Quanto à composição do próximo parlamento, segundo estimativas preliminares fornecidas pela empresa Cismori no final de agosto, nenhum partido terá maioria absoluta enquanto o Mas poderá encolher a ponto de quase desaparecer. O melhor resultado deveria ser o do PDC, que teria pelo menos 45 deputados, de um total de 130, e 13 dos 36 senadores. Números que não permitem o controle de nenhuma das Câmaras e sugerem um governo de coalizão. O segundo maior grupo será o do partido Libre, com pelo menos 37 deputados e 11 senadores. A terceira força parlamentar será a da aliança Unità, partido que apostou no empresário Samuel Medina Doria como presidente: neste caso estamos a falar de 28 deputados e seis senadores. Quanto ao Mas, dilacerado pelo confronto entre os seguidores de Morales e os partidários do presidente cessante, Luis Arce, por enquanto parece garantir apenas um assento na Câmara.

Ontem o Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia (TSE) redefiniu o sistema de resultados eleitorais preliminares (Sirepre) em vista do segundo turno e prevê divulgar os primeiros dados às 20h (horário local) de hoje. No total, 7,93 milhões de cidadãos têm direito de voto: destes, aproximadamente 7,5 milhões votarão na Bolívia e 369 mil em 22 países ao redor do mundo. O maior número de eleitores reside nos departamentos de Santa Cruz (2.071.967), La Paz (2.047.825) e Cochabamba (1.443.013). Potosí tem 487.029 eleitores elegíveis, seguida por Tarija, 394.539; Chuquisaca, 384.825; Oruro, 363.225; Bens, 296.173 e Pando, 78.611. Quanto aos eleitores no exterior, 95% estão concentrados em cinco países: Argentina, Espanha, Brasil, Chile e Estados Unidos. Pelas regras, quem vencer com diferença de apenas um voto será eleito presidente da Bolívia para o período 2025-2030.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.