Os soldados posicionaram-se na simbólica Piazza 13 Maggio, no coração da capital, recebidos por uma multidão entusiasmada
O Corpo de Pessoal e Serviços Administrativos e Técnicos do Exército (Capsat), unidade do exército malgaxe que ontem tomou o partido dos manifestantes contra o presidente Andry Rajoelina, anunciou que detém o controlo das forças armadas nacionais. “A partir de agora, todas as ordens das forças malgaxes, terrestres, aéreas e marítimas, serão emitidas pelo quartel-general do Capsat”, anunciaram oficiais da unidade num comunicado em vídeo divulgado nas redes sociais. A base Capsat, localizada nos arredores de Antananarivo, já tinha desempenhado um papel fundamental na revolta de 2009, que levou ao poder o então presidente da câmara da capital, Rajoelina. À tarde, o oficial do Capsat, Mickael Randrianirina, agora à frente do movimento de protesto, negou ao semanário “Jeune Afrique” que o que está em curso seja um golpe de Estado, conforme noticiado pela manhã por Rajeolina.
“Isto não é um golpe de Estado”, declarou o coronel, especificando que era “apenas um simples oficial”. “O exército respondeu ao apelo do povo malgaxe. O poder pertence ao povo, não a mim. O caos actual não foi causado pelo exército, mas pelos líderes deste país”, acrescentou. Quando questionada sobre quaisquer contactos com o coletivo Madagascar Gen Z, movimento protagonista dos protestos, Randrianirina negou qualquer ligação: “Não discuto com grupos ou movimentos políticos”. Está prevista uma nova manifestação na capital durante a noite, enquanto decorre a cerimónia fúnebre de um soldado morto durante os protestos de ontem, num clima de crescente tensão política e militar no país.
O gabinete permanente do Senado de Madagáscar anunciou a destituição do general Richard Ravalomanana, presidente da câmara alta do parlamento, motivando a decisão com a necessidade de “preservar os melhores interesses da nação” e garantir a estabilidade institucional, depois de esta manhã o chefe de Estado ter denunciado um golpe de estado em curso. “O General Ravalomanana já não assume qualquer responsabilidade na gestão do Senado”, lê-se no comunicado, no qual os senadores reiteram a vontade de “respeitar as leis em vigor e de trabalhar pela paz e pela unidade nacional”.
A decisão, que ocorreu num contexto de forte tensão política e movimentos dentro do exército, poderá ter consequências constitucionais significativas. Com base na Carta fundamental, de facto, o Presidente do Senado é chamado a garantir a presidência interina da República em caso de vacância no poder. Caso esse número também ficasse vago, a Constituição prevê que o governo deverá garantir o provisório “de forma colegiada”. A medida foi anunciada enquanto, em Antananarivo, parte das forças armadas se juntou aos manifestantes que há dias protestam contra o governo, alimentando a incerteza política no país.