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Líbia: quase 900 mil migrantes no país, um aumento de 18 por cento num ano

O inquérito da OIM revela que 83 por cento dos migrantes deixaram o seu país por razões económicas

Existem atualmente 894.890 migrantes de 45 países na Líbia, de acordo com o último relatório trimestral da Matriz de Rastreamento de Deslocados (DTM) da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Os dados, relativos ao período de Abril a Junho de 2025, representam um aumento de 3 por cento em comparação com o trimestre anterior e de 18 por cento numa base anual, confirmando o crescimento constante que começou no final de 2023. A Líbia continua a desempenhar o papel de um centro central para a migração regional, actuando tanto como destino de trabalho como como ponto de trânsito para a Europa. Segundo a OIM, 90 por cento dos migrantes provêm de países vizinhos – em particular Egipto (26 por cento), Sudão (17 por cento), Níger (31 por cento) e Chade (6 por cento) – enquanto as restantes presenças são constituídas por trabalhadores da Nigéria, Etiópia, Gana e Bangladesh. O inquérito revela que 83 por cento dos migrantes deixaram o seu país por razões económicas, especialmente em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida, enquanto 14 por cento fugiram devido a conflitos e instabilidade política, particularmente do Sudão. Os restantes 3 por cento citam razões familiares ou ambientais.

O relatório indica que 76 por cento dos migrantes estão actualmente empregados, principalmente nos sectores da construção (44 por cento), doméstico (21 por cento) e agrícola (17 por cento). No entanto, a OIM relata que muitos trabalhadores enfrentam condições de emprego instáveis, salários irregulares e acesso limitado aos serviços de saúde e sociais, deixando-os em condições de elevada vulnerabilidade económica. Do ponto de vista demográfico, o fluxo migratório na Líbia continua a ser fortemente masculino e jovem: 90 por cento dos recém-chegados são homens com menos de 30 anos, enquanto as mulheres representam apenas 3 por cento do total, maioritariamente empregados no trabalho doméstico e em serviços informais. As famílias mistas representam aproximadamente 7 por cento da população migrante registada.

Um número significativo diz respeito aos métodos de entrada no país: aproximadamente 73 por cento dos migrantes recorreram a facilitadores ou redes de tráfico para atravessar as fronteiras, com um custo médio estimado de 349 dólares para a viagem. A OIM observa que apenas 5 por cento dos migrantes manifestam a intenção de regressar ao seu país de origem, enquanto mais de 40 por cento declaram que ainda não têm um plano de migração definido. A migração circular e sazonal continua a ser um fenómeno generalizado, com cerca de 17 por cento dos migrantes a atravessar regularmente as fronteiras por motivos profissionais ou familiares, especialmente ao longo das rotas egípcias e nigerianas. Nas regiões do sul – em particular Sebha, Kufra e Ghat – a presença de infra-estruturas comerciais e corredores logísticos com o Níger e o Chade facilita esses movimentos.

Segundo a OIM, a tendência de aumento da presença migratória deve-se não só aos conflitos e crises económicas nos países de origem, mas também à procura sazonal de mão-de-obra e ao afrouxamento dos controlos fronteiriços em algumas áreas da Líbia, particularmente no Leste e no Sul. Apesar da recuperação económica parcial e da relativa estabilidade em algumas zonas costeiras, o relatório alerta que a persistente fragmentação política e a presença de redes armadas locais continuam a ter um impacto negativo nas condições dos migrantes, que permanecem expostos a riscos de exploração, detenções arbitrárias e detenção prolongada. Por último, a OIM reitera a importância de reforçar a cooperação entre as autoridades líbias e os parceiros internacionais para promover uma “governação migratória baseada em direitos”, promovendo o acesso a canais legais de trabalho e proteção, em linha com os compromissos assumidos no âmbito do plano de ação UE-Líbia para a gestão das fronteiras e as repatriações voluntárias.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.