Uma carta formal foi enviada pelo primeiro -ministro do governo da Líbia designado pela Câmara de Representantes Orientais, Osama Hamad, não reconhecido pela comunidade internacional
O primeiro -ministro do governo da Líbia designado pela Câmara de Representantes Orientais, Osama Hamadnão reconhecido pela comunidade internacional, enviou uma carta formal ao Tribunal Penal Internacional (CPI), no qual reitera a recusa de seu executivo em reconhecer a competência do Tribunal em relação à Líbia. O documento – publicado pelo governo de Benghazi em sua página no Facebook – chega em resposta à declaração de aceitação retroativa da jurisdição do CPI emitido em maio pelo governo da Unidade Nacional (Gun) de Trípoli e contestado pelo mesmo parlamento com sede em Tobruk. Segundo Hamad, a recusa é baseada em cinco razões principais: a ausência de uma base constitucional e legal para a renúncia da soberania judicial; a falta de obrigação internacional e nacional; a violação do princípio da separação de poderes; a posição contrária da Câmara dos Deputados; E, finalmente, a decisão do sistema judicial líbio.
Hamad sublinha que a Líbia não faz parte do estatuto de Roma da CPI e que, portanto, a jurisdição do Tribunal só pode aplicar através de uma aceitação expressa de acordo com a Constituição, que – de acordo com o primeiro -ministro – não pode vir do executivo, mas exclusivamente pela autoridade legislativa. “O anúncio de JUN é sem validade legal, pois o executivo não tem nenhuma competência para renunciar à jurisdição nacional ou delegá-la a órgãos externos”, escreve Hamad, citando a opinião expressa em 2002 pelo Tribunal Internacional de Justiça no caso Congo-Belgio. A carta também se refere à decisão emitida pelo Tribunal de Primeira Instância de Benghazi Sud, que aceitou o recurso apresentado pelo governo oriental e suspenso como uma maneira de precaução da eficácia da arma à jurisdição da IPC.
A carta do primeiro -ministro Hamad ao CPI chega em um momento de crescente ambiguidade institucional no relacionamento entre a Líbia e a corte da época. Duas semanas atrás, o Ministério da Justiça do Governo da Unidade Nacional (Gun) de Trípoli havia publicado – e rapidamente removido – um comunicado de imprensa no qual a recusa formal de entregar foi declarada Osama Najim Al Masriex -chefe alto do sistema prisional da Líbia acusado de doze crimes graves, incluindo assassinato, estupro e tortura. De acordo com a nota – depois retirada – o Tribunal Penal Internacional não teria fornecido provas suficientes e, em qualquer caso, “nenhum cidadão líbio será entregue a uma jurisdição estrangeira”. Uma posição em aparente contradição com o que foi declarado em maio passado pelo promotor do tribunal Karim Khansegundo o qual Trípoli reconheceu formalmente a competência do Tribunal pelos crimes cometidos na Líbia entre 2011 e 2027.
Para complicar ainda mais a imagem, o jornal italiano “Avvenire” revelou nos últimos dias a prisão na Alemanha de Khaled para Hisriconhecido como Buti, uma figura proeminente da milícia Rada e considerou o “braço direito” de Al Masri. De acordo com fontes de investigação, sua extradição para Haia estaria atualmente em avaliação e poderia dar um novo impulso à investigação internacional sobre os crimes cometidos na Líbia. Apenas dois dias antes da prisão de Al Hisri, Trípoli revogou todas as imunidades funcionais contra Al Masri, já repatriadas de Roma a janeiro. Ambos estavam no topo de grupos armados formalmente afiliados ao governo, agora sendo desmontados. A perspectiva de um processo para o Tribunal Penal Internacional – também alimentado pelas prioridades de investigação reiterou recentemente na sede da ONU – poderia ter implicações significativas, não apenas no nível judicial, mas também no frágil equilíbrio entre autoridades líbias e parceiros internacionais.