Os barcos, construídos nos estaleiros de Dubai, seguiram para unidades sob o comando do Marechal de Campo Khalifa Haftar para operações de patrulha no Mediterrâneo
O jornal líbio “Al Wasat”, editado no Cairo, publicou hoje uma longa análise sobre as violações do embargo de armas em vigor na Líbia e que deverá ser implementado pela missão aeronaval da União Europeia “Irini” (“paz” em grego), sediada em Roma. Fontes europeias e líbias relatam o bloqueio de vários barcos carregados de equipamento militar com destino à costa líbia, enquanto persistem acusações de uma aplicação do embargo de “duplo padrão” da proibição, o que favoreceria as forças do leste do país em detrimento do governo de Trípoli. O jornal líbio destaca que a Guarda Civil espanhola apreendeu em agosto dez barcos militares no porto de Ceuta, com destino a Benghazi. Os navios, construídos nos estaleiros de Dubai, foram encaminhados para unidades sob o comando do marechal de campo Khalifa Haftar para operações de patrulha no Mediterrâneo. Uma circunstância, esta última, revelada pelo jornal italiano “Il Foglio” e posteriormente relançada pelos meios de comunicação franceses. Todos os barcos traziam a sigla “TBZ”, referindo-se à brigada Tareq Ben Ziyad, ligada ao Saddam Haftar, acusado pela Amnistia Internacional de crimes graves e violações dos direitos humanos. A apreensão foi considerada “uma exceção” pela mídia francesa, que afirmou que grande parte dos suprimentos militares dos Emirados Árabes Unidos chegam regularmente ao leste da Líbia.
No início de Agosto, o jornal grego “To Vima” noticiou que um navio de bandeira panamenha, o Aya1, suspeito de transportar jipes e equipamento militar para o leste da Líbia, foi detido no porto de Astakos e posteriormente desviado para Misrata após uma inspecção confidencial. No final de agosto, outro navio, o Lila Mumbai (bandeira da Libéria), foi intercetado em Ceuta quando transportava dois barcos de patrulha militar. Documentos confidenciais da Operação Irini – publicados em Março passado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação – revelam que a Rússia utiliza uma “frota sombra” para enviar armas para Tobruk, incluindo o navio Barbaros, de bandeira camaronesa, que alegadamente desactivou sistemas de localização por satélite para escapar aos controlos. Um relatório da Interpol confirmou a manipulação do sistema de identificação automática, recomendando uma monitorização reforçada. Em setembro, o almirante Marco Casapieri assumiu o comando da missão “Irini”, sucedendo ao almirante Valentino Rinaldi, com a missão de reforçar a aplicação do embargo e combater o tráfico de armas, petróleo e migrantes.
A operação ar-mar da União Europeia realizou um total de 20.383 chamadas rádio (chamadas) a navios mercantes, 764 aproximações amigáveis e 33 inspeções de bordo com três sequestros, segundo dados atualizados até 1 de outubro. Desde o lançamento da missão, em março de 2020, foram também monitorizados 2.141 voos suspeitos e realizadas 95 recomendações de inspeção em portos europeus, das quais 75 foram efetivamente executadas. Além disso, foram apresentados 76 relatórios especiais ao Painel de Peritos da ONU, enquanto o Centro de Satélites da União Europeia (SatCen) forneceu 4 465 conjuntos de imagens e análises de satélite para apoiar atividades de monitorização. A operação continua a monitorizar 25 aeroportos e pistas de aterragem e 16 portos e terminais em toda a zona do Mediterrâneo. Atualmente participam 24 Estados-Membros da União Europeia e o mandato de Irini foi renovado até 31 de março de 2027, com um financiamento de 16,35 milhões de euros.
Segundo análise do site norte-americano “Defense News”, a Líbia tornou-se um novo terreno de confronto entre os Estados Unidos e a Rússia. Washington, sob a presidência de Donald Trump, está a tentar aproximar o general Haftar para reduzir a influência russa no leste do país. O artigo também relata um exercício americano em Sirte com bombardeiros B-52 em Fevereiro passado, interpretado como uma resposta à visita de Haftar e dos seus filhos à Bielorrússia, aliada de Moscovo. Segundo o especialista líbio Jalel Harchaoui, o Pentágono está a liderar a tentativa de Washington de envolver Haftar, enquanto outros analistas, como Ben Fishman do Instituto de Washington, consideram improvável o destacamento do general líbio de Moscovo: “Os B-52 não mudarão a sua posição – afirmou –. As forças de Haftar continuam a ser a estrutura militar mais organizada do país, enquanto no oeste as milícias ainda dominam”.