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Líbano: o Hezbollah recusa-se a depor as armas, preso entre Israel e o Exército

Tel Aviv estaria considerando um aumento nas operações militares no Líbano em resposta ao suposto fortalecimento do grupo xiita

O partido xiita libanês Hezbollah encontra-se hoje preso num vício entre a crescente pressão militar israelita e a pressão política exercida pelo governo libanês e pelas Forças Armadas. A frágil trégua em vigor desde 27 de Novembro não impediu novas incursões israelitas no sul do país e no vale do Beqaa, mas ao mesmo tempo levou Beirute a reafirmar com força o princípio do monopólio estatal da força, pondo fim à era dos partidos armados. A última incursão israelita, ocorrida durante a noite de quarta para quinta-feira na aldeia de Blida – que custou a vida a um funcionário municipal – provocou a reacção do presidente José Aounque ordenou ao exército “combater qualquer violação da soberania nacional”. Durante reunião com o Comandante das Forças Armadas, General Rodolfo HaykalAoun denunciou “as práticas agressivas de Israel” e pediu ao Comitê de Monitoramento do Cessar-Fogo que “passasse das palavras aos atos”.

Por seu lado, Israel está a considerar um aumento nas operações militares no Líbano em resposta ao alegado fortalecimento do grupo xiita. Segundo a emissora “Kan 11”, o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu ele se encontrou com seu gabinete de segurança ontem à noite para discutir o assunto. Um alto funcionário israelense disse que o Hezbollah estava “tentando – e parcialmente conseguindo – reconstruir suas capacidades ofensivas e defensivas, bem como restabelecer a cadeia de comando”. Fontes israelitas e árabes citadas pelo “Wall Street Journal” confirmam que a milícia está a reabastecer os seus stocks de foguetes, mísseis antitanque e artilharia, nomeadamente através da Síria e de antigas rotas de contrabando, enquanto parte da produção teria lugar directamente no Líbano. O ministro das Relações Exteriores de Israel Gideon Sa’ar declarou ontem que “o Hezbollah continua a intensificar os seus esforços de rearmamento com o apoio do Irão”, alertando que esta corrida armamentista “é perigosa para a segurança de Israel, mas também para o futuro do Líbano”.

Nos termos do acordo de cessar-fogo de Novembro, o processo de desarmamento das milícias deverá começar a sul do rio Litani, numa faixa de cerca de 30 quilómetros ao longo da fronteira com Israel. Presidente Aoun e o Primeiro Ministro Nawaf Salam reiteraram repetidamente a necessidade de alargar o desarmamento a todo o país e, no Verão, o governo aprovou um plano para restaurar o controlo exclusivo do Estado sobre o uso da força. Beirute, segundo o “WSJ”, já iniciou o desmantelamento de algumas posições do Hezbollah no sul, enquanto o progresso continua limitado nas zonas central e oriental do país, onde a presença do grupo está mais enraizada.

Contudo, o exército libanês parece cauteloso. “As Forças Armadas não estão interessadas nem prontas para enfrentar militarmente o Hezbollah”, disse ele Randa Slimanalista do Instituto de Política Externa da Universidade Johns Hopkins, segundo o qual o Líbano “está preso numa zona cinzenta: o governo diz que quer desarmar o Hezbollah, mas ainda não tem um plano concreto para o norte do país”. Neste contexto, o Hezbollah recusa entregar as suas armas, alegando que elas representam “um ponto forte para o Líbano”, uma vez que “o exército nacional não é capaz de defender o país de Israel”. Segundo fontes de inteligência ocidentais, o grupo está a regressar a uma estrutura mais descentralizada, semelhante à adoptada na década de 1980, e continua a recrutar novos combatentes com o apoio de Teerão. “O Hezbollah não acredita que tenha sido derrotado”, conclui Slim. “Mas hoje ele se encontra sob pressão como nunca antes: deve defender-se não só de Israel, mas também de um governo que parece verdadeiramente determinado a acabar com a temporada de milícias armadas”.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.