A palestra, intitulada “O alvorecer das relações ítalo-marroquinas”, traçou as principais etapas da história comum entre os dois países
Diálogo, respeito mútuo e desenvolvimento partilhado: estas são as três orientações ao longo das quais a Itália pretende reforçar a sua parceria com Marrocos, potenciando uma relação baseada nas raízes históricas, nas afinidades culturais e numa vocação mediterrânica comum. Esta é a mensagem que o embaixador italiano em Rabat, Pasquale Salzanoquis transmitir na sua lectio magistralis proferida em Fez, por ocasião das celebrações de dois séculos de relações diplomáticas entre os dois países. O encontro decorreu num ambiente altamente simbólico: Fez, o coração espiritual e intelectual de Marrocos, sede da universidade mais antiga do mundo árabe, al Qarawiyyīn, fundada em 859 e ainda um dos mais prestigiados centros de estudos islâmicos e humanísticos. Durante séculos a cidade representou uma encruzilhada de conhecimento e civilização, um ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente. Proferir um discurso desta natureza em Fez – sublinhou o embaixador – significa “regressar ao início das relações entre Itália e Marrocos e reconhecer a continuidade de um diálogo que atravessa séculos”.
A palestra, intitulada “O alvorecer das relações ítalo-marroquinas”, traçou as principais etapas da história comum entre os dois países, desde as antigas rotas mercantis medievais até ao Tratado de Amizade e Comércio de 1825 entre o Reino da Sardenha e o Sultanato de Marrocos, considerado a pedra fundamental de uma cooperação institucional destinada a perdurar no tempo. Salzano recordou como “as cidades costeiras italianas e os portos marroquinos foram os primeiros laboratórios de um Mediterrâneo partilhado”, lugares de intercâmbio onde a linguagem do comércio se entrelaçava com a do conhecimento. Uma relação, acrescentou, que ao longo dos séculos se transformou numa “teia viva de relações humanas e culturais, capaz de resistir às mudanças da história”.
O embaixador recordou também a missão diplomática italiana de 1875, liderada por Luigi Scovasso e imortalizado na famosa pintura de Stefano Ussicomo momento fundador do diálogo moderno entre Roma e Rabat. Salzano lembrou que também fez parte daquela expedição Edmondo De Amicisque no seu Marrocos descreveu o país não como um “algures exótico”, mas como um espaço de encontro entre civilizações. No seu discurso, Salzano colocou as relações ítalo-marroquinas no quadro mais amplo da visão italiana da cooperação euro-mediterrânica e do Plano Mattei para África, definido como “um método de co-desenvolvimento baseado na igualdade de dignidade, formação e desenvolvimento partilhado”. Esta abordagem, explicou, reflecte “a crença comum de que o futuro não pertence às economias isoladas, mas às sociedades capazes de colaborar”. Prestando homenagem à visão de modernização e abertura do Reino sob a liderança do Rei Maomé VIo embaixador sublinhou a capacidade de Marrocos de “combinar identidade e progresso, projetando o seu legado no futuro”, encontrando em Itália um “parceiro atento e solidário”. Uma passagem, esta última, que reconhece o papel do soberano como promotor da estabilidade e do desenvolvimento no contexto regional.
O discurso reiterou, portanto, o papel da Itália como ponte natural no Mediterrâneo, “um mar que não é uma fronteira, mas um laboratório do futuro”, onde a cultura, a energia e a formação podem tornar-se instrumentos de estabilidade e prosperidade partilhada. “O conhecimento – disse Salzano – é a primeira forma de cooperação entre os povos: o ponto de partida de toda verdadeira diplomacia”. Uma mensagem que, no contexto de Fez e da sua universidade milenar, assume um valor emblemático: o conhecimento como fundamento do diálogo e a cultura como linguagem universal da paz, na esteira de uma relação que une a Itália e Marrocos há dois séculos num espírito de confiança, amizade e colaboração mediterrânica.