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“Isso não deveria existir”: o mistério do objeto espacial que desafia a ciência

Quando achamos que já entendemos a playlist dos astros no universo, eis que surge uma faixa surpresa para confundir até os astrônomos mais experientes: o enigmático objeto espacial conhecido como “O Acidente”. Prepare-se para mergulhar no mistério de um astro que, francamente, parece ser um reizinho das exceções e desafia tudo que conhecíamos sobre as chamadas anãs marrons.

Nem estrela, nem planeta: o estranho mundo das anãs marrons

Às vezes apelidadas de “estrelas fracassadas”, as anãs marrons são corpos celestes fora dos padrões. Não chegam a ser estrelas propriamente ditas, pois têm massa insuficiente para promover a fusão de hidrogênio de forma sustentada, como aquelas que brilham em nosso céu. Mas também estão longe de serem planetas convencionais. Suas características são relativamente bem conhecidas pelos astrônomos – ou, pelo menos, eram.

Um desses espécimes resolveu sair do tradicional e virou destaque em um estudo publicado na The Astrophysical Journal Letters, divulgado também pela NASA em agosto de 2021. Chamado oficialmente de WISEA J153429.75-104303.3 (abrevia, por favor, para WISE 0855−0714), este astro recebeu o apelido carinhoso de “O Acidente” justamente por ter sido descoberto… por acidente! O flagrante cósmico aconteceu graças ao telescópio espacial infravermelho NEOWISE (Near-Earth Object Wide-Field Infrared Survey Explorer).

Um Acidente e tanto: características surpreendentes

Segundo os autores do estudo, WISE 1534−1043 (mais uma sigla para a coleção!) parece ser a anã marrom mais enigmática já registrada. Ela reforça, aliás, a ideia de que esses objetos podem apresentar uma variedade de características bem mais ampla do que se pensava. O Acidente literalmente desafiou todas as expectativas: suas propriedades não batiam com nenhum modelo conhecido até então.

Uma das descobertas mais impactantes foi a provável idade do objeto. Cientistas estimam que ele pode ter entre 10 e 13 bilhões de anos, ao menos o dobro da idade média das demais anãs marrons catalogadas. Isso o coloca num grupo de respeito em termos de longevidade cósmica! Segundo a equipe, trata-se de uma anã marrom fria e muito pobre em metais – e, antes que alguém pergunte, “metais” em astronomia são todos os elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio.

Nas anãs marrons, sabe-se que, conforme envelhecem, esfriam. Sua luminosidade muda de acordo com o comprimento de onda observado. O Acidente apareceu pouco luminoso em certos comprimentos de onda, sugerindo muita idade, porém surpreendentemente brilhante em outros, indicando temperatura mais elevada do que o esperado. Vai entender.

Observações, distâncias e velocidades supersônicas

Curiosos, os cientistas usaram o telescópio do Observatório W. M. Keck, no Havaí, para tentar espreitar o objeto. Mas a intensidade do brilho era baixa demais, reforçando a hipótese de ser um corpo muito frio. Foi preciso então apelar para os telescópios espaciais Spitzer e Hubble para determinar sua distância: cerca de 50 anos-luz da Terra. Não é nosso vizinho de muro, mas, para padrões galácticos, está logo ali na esquina.

O que mais chamou a atenção? O Acidente se move mais rápido do que outras anãs marrons igualmente distantes: cerca de 800 mil quilômetros por hora! Ou seja, esse objeto passeia pela galáxia há tanto tempo que foi acelerado por encontros gravitacionais com corpos muito mais massivos. Um veterano rodado das trilhas estelares!

Um antigo viajante do universo

  • Possivelmente com idade entre 10 e 13 bilhões de anos, nasceu quando a galáxia era novinha em folha, com uma química bem diferente da atual.
  • Suas peculiaridades podem não ser únicas. Os autores suspeitam da existência de uma população inteira de anãs marrons semelhantes ao Acidente vagando pela Via Láctea.
  • O futuro telescópio James-Webb é a esperança para decifrar ainda mais sobre este objeto e comprovar as intuições desses cientistas curiosos.

Em suma, o Acidente faz jus ao nome: não só surpreende pela descoberta inesperada, como também desafia todos os modelos clássicos de formação e evolução das anãs marrons. Será que há outros “acidentes” à espreita no universo, prontos para nos mostrar que a ciência está longe de ter todas as respostas? Só nos resta aguardar, olhos voltados para o céu… e para os telescópios.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.