No seu último relatório ao Conselho de Segurança, o secretário da ONU expressou “profunda preocupação” com o “impasse político contínuo” entre Marrocos e a Frente Polisário
No relatório de 30 de setembro, o secretário-geral reconhece “os esforços intensificados” do enviado pessoal de Mistura, que nos últimos meses realizou missões em Rabat, Argel, Nouakchott e nos campos de Tindouf, “numa tentativa de reativar um diálogo realista e pragmático entre as partes”. De Mistura também manteve consultas em Londres, Washington, Paris e Roma, onde – lemos no documento – “recebeu o apoio activo de vários representantes italianos para a retoma do processo político sob a égide das Nações Unidas”. Guterres manifesta ainda “lamento pela persistente falta de diálogo direto entre Marrocos e a Argélia” e convida os dois países “a renovarem os esforços de cooperação regional”, sublinhando que “a estabilidade do Magrebe depende de uma solução partilhada e duradoura para a questão do Sahara Ocidental”.
No terreno, porém, a situação continua frágil. A Minurso relata “trocas de ataques de fogo e drones” ao longo do muro de areia que separa as áreas controladas por Marrocos das da Frente Polisário, bem como um aumento das atividades militares e de infraestruturas na área disputada. A ONU manifesta “preocupação com a situação humanitária nos campos de Tindouf”, onde cerca de 170 mil refugiados saharauis vivem em condições cronicamente precárias, agravadas pela falta de fundos e pelas alterações climáticas. A prorrogação do mandato da Minurso até ao início de 2026 responde ao objetivo de assegurar a continuidade operacional da missão numa fase de incerteza política. O orçamento estimado para o próximo ano é de aproximadamente 70,7 milhões de dólares, enquanto as contribuições ainda não pagas ao fundo missionário ultrapassam os 64 milhões. “Depois de 50 anos de conflito e mais de 35 de presença da Minurso”, conclui Guterres no seu relatório, “é necessário mais do que nunca um compromisso político decisivo para quebrar o impasse e restaurar a perspectiva de desenvolvimento e estabilidade ao povo do Sahara Ocidental”.