O executivo nomeado pela Câmara dos Representantes acusou a missão da ONU de ter “pulado” as duas primeiras fases
A crise entre a missão da ONU na Líbia (UNSMIL) e o governo paralelo em Benghazi liderado por Osama Hamad isso se aprofunda. Num novo comunicado divulgado hoje, o executivo nomeado pela Câmara dos Representantes acusou a missão das Nações Unidas de ter “saltado” as duas primeiras fases do roteiro apresentado pelo representante especial do secretário-geral, Hanna Tetteh, passar directamente para a fase do chamado “diálogo estruturado” sem consultas preliminares com as instituições líbias. Segundo o governo de Benghazi, esta decisão teria “comprometido a credibilidade e a implementação do roteiro, condenando-o ao fracasso antes mesmo de começar”. O roteiro da ONU prevê, de facto, como primeiro passo, a reorganização da Comissão Nacional Eleitoral e a revisão das leis eleitorais pelos Conselhos de Estado e pela Câmara dos Representantes, seguida da formação de um governo unificado responsável pela preparação das eleições.
O executivo de Hamad criticou ainda a missão por ter enviado convites diretos às universidades e instituições públicas líbias para a designação de participantes no “diálogo estruturado”, “sem coordenação prévia com o Ministério dos Negócios Estrangeiros”, que, segundo a nota, continua a ser “a única autoridade legitimada para representar a Líbia nas relações com organizações internacionais por força da Convenção de Viena de 1961”. No comunicado, o governo alerta que “qualquer contacto direto com entidades internacionais” sem a autorização do Ministério dos Negócios Estrangeiros “constituirá uma violação das leis líbias”. Hamad acusa a missão da ONU de “insistir na superação das leis e prerrogativas soberanas da Líbia” e reitera que “o dossiê de reconciliação nacional é uma questão interna que não pode ser objeto de interferência ou mediação estrangeira”.
As tensões com a missão da ONU agravaram-se depois de, nas últimas semanas, Hamad ter enviado uma carta de protesto ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e ao Conselho de Segurança, denunciando a “grave interferência” do representante especial. Estas, segundo a carta, incluem “tentativas de influenciar a nomeação do Conselho da Comissão Eleitoral, interferências em dossiês económicos e financeiros e pressões sobre instituições judiciais e de segurança”. O primeiro-ministro de Benghazi também pediu uma “revisão global” da missão da ONU, em linha com a recente proposta do secretário-geral de reorganizar a UNSMIL, e apelou a “um reequilíbrio da sua presença entre Trípoli, Benghazi e Sebha” para “garantir representação e imparcialidade”.