O sinal de abertura de Pequim surge poucos dias depois do acordo alcançado entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, para uma trégua comercial de um ano.
A China anunciou a possibilidade de permitir algumas exportações de semicondutores produzidos pela Nexperia, depois do bloqueio de Pequim ter ameaçado paralisar as cadeias de abastecimento automóvel globais. A informação foi noticiada pelo jornal britânico “Financial Times”, citando uma declaração do Ministério do Comércio chinês. O governo holandês assumiu o controlo da Nexperia – uma empresa sediada nos Países Baixos mas de propriedade chinesa – no mês passado, depois de os EUA terem alargado a sua lista negra de exportações para incluir o grupo, citando deficiências de governação ligadas ao seu acionista chinês, Wingtech. Em resposta, a China impediu que 80% da produção de Nexperia, que é processada em fábricas chinesas, saísse do país. O Ministério do Comércio apelou agora às empresas afectadas pela escassez de chips para contactarem as autoridades para isenções de exportação: “Avaliaremos cuidadosamente as condições reais das empresas e concederemos isenções às exportações elegíveis”, disse um porta-voz, acrescentando que “a segurança e a estabilidade das cadeias de abastecimento nacionais e internacionais” serão tidas em conta.
O sinal de abertura de Pequim surge poucos dias depois do acordo alcançado entre o presidente dos EUA Donald Trump e a contraparte chinesa Xi Jinping por uma trégua comercial de um ano. No acordo, a China comprometeu-se a suspender as restrições às terras raras, enquanto os Estados Unidos não estenderão a proibição de exportação de tecnologia a subsidiárias de empresas chinesas. Autoridades europeias e chinesas discutiram ontem em Bruxelas medidas de controlo das exportações, incluindo restrições à Nexperia. A Comissão Europeia saudou a suspensão da China sobre terras raras, chamando-a de “uma medida apropriada e responsável”. A interrupção das exportações de chips Nexperia atingiu duramente as montadoras da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. A produção corre o risco de parar em setores críticos da cadeia de abastecimento, como airbags e sistemas de iluminação. A Volvo e a Volkswagen já alertaram sobre possíveis fechamentos temporários de fábricas, enquanto o CEO da Ford, Jim Farley, disse que Washington estava empenhado em resolver o litígio.
A Nexperia produz wafers na Alemanha e no Reino Unido, que são então enviados à China para montagem antes da distribuição global. O grupo foi adquirido pela Wingtech em 2017 e colocado na lista negra do Departamento de Comércio dos EUA em 2024. A aquisição pelo governo holandês ocorreu na sequência de “graves deficiências de governação”, ligadas à pressão do fundador da Wingtech, Zhang Xuezhengo que teria forçado a Nexperia a comprar semicondutores de uma fábrica em Xangai não controlada pela empresa. Zhang foi afastado do cargo de CEO após a intervenção do governo holandês. Segundo a Wingtech, a medida tomada pelo governo holandês é uma tentativa de facilitar uma aquisição por uma empresa holandesa. A empresa também disse que a crise representa uma “ameaça existencial” para a Nexperia, com centenas de empregos em risco em todo o mundo.
