A distância crescente entre Madrid e Barcelona corre o risco de alimentar tensões políticas e sociais, acentuando as dificuldades em encontrar um equilíbrio estável entre as necessidades nacionais e regionais
A base Unidos pela Catalunha ratificou hoje com ampla maioria a decisão dos líderes partidários de romper o acordo com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) que apoiou o governo de Pedro Sanches. Na consulta interna, com uma participação de 66,29 por cento, 86,98 por cento dos militantes votaram a favor da cisão, 10,22 por cento contra e 2,8 por cento em branco. A confirmação da linha dura pela base marca uma viragem na legislatura, abrindo uma fase de forte incerteza política. A liderança da JxCat, liderada pelo ex-presidente catalão Carles Puigdemont e o secretário geral Jordi Turullsublinhou que a fase atual exige “ações e não palavras”, denunciando o desrespeito do governo pelos seus compromissos. O executivo de Pedro Sanchez, já nascido com uma maioria parlamentar extremamente fraca, corre agora o risco de ter de lidar com a dura lei dos números no Congresso dos Deputados. Mas a fragilidade do governo não diz respeito apenas à estabilidade parlamentar.
A ruptura com o JxCat poderá ter repercussões nos dossiês territoriais e económicos mais sensíveis, como a gestão das transferências de competências para as regiões, a política fiscal e o reconhecimento do catalão nas instituições europeias. Além disso, a distância crescente entre Madrid e Barcelona corre o risco de alimentar tensões políticas e sociais, acentuando as dificuldades em encontrar um equilíbrio estável entre as necessidades nacionais e regionais. Nos próximos dias, será dada atenção à aprovação do orçamento e às primeiras votações após a votação interna do partido independentista catalão. A margem de manobra do governo parece cada vez mais limitada, com os partidos da oposição a pressionarem Sanchez para convocar eleições antecipadas. O legislador entra assim numa fase de extrema vulnerabilidade, onde cada decisão parlamentar pode transformar-se num teste à sobrevivência do governo e à estabilidade política do país.