Imagine um conceito tão ousado que sacode as bases do que sabemos sobre evolução, indo além da própria vida – e colocando minerais, estrelas e planetas no mesmo barco dos seres vivos. Curioso? Então prepare-se para mergulhar numa nova ideia que está mexendo com a cabeça de cientistas e filósofos!
Uma lei universal para todos os sistemas complexos?
Uma equipe composta por nove cientistas e filósofos americanos, liderada pela Carnegie Institution for Science, publicou um artigo que pode até provocar algumas sobrancelhas arqueadas nos corredores da ciência. A publicação, de outubro de 2023 na Proceedings of the National Academy of Sciences, propõe que a famosa teoria da evolução de Charles Darwin seria apenas um caso particular de uma lei natural muito mais abrangente.
Sim, você leu certo. Segundo esses pesquisadores, a evolução não se restringe à vida como conhecemos. Eles defendem uma nova regra – chamada de “lei do aumento da informação funcional” – onde todos os sistemas naturais complexos, dos organismos vivos aos minerais, planetas e estrelas, evoluem rumo a estados mais estruturados, diversificados e complexos.
- Vida: plantas, animais, unicelulares e multicelulares.
- Matéria inanimada: átomos, minerais, planetas e estrelas.
Nesse cenário, a evolução deve ser entendida como “seleção para a função”. Ficou confuso? Calma, essa função vai além da simples sobrevivência.
Função: sobrevivência, estabilidade e… novidade!
Darwin, lá no século 19, enxergava principalmente a sobrevivência: viver o suficiente para deixar descendentes férteis, garantindo a continuidade da espécie. Já a equipe americana amplia esse conceito, incluindo como funções também a estabilidade (capacidade de perdurar) e a novidade (novas configurações ou formas).
O artigo traz exemplos para ilustrar essa nova visão de seleção da novidade. Entre eles:
- O surgimento da fotossíntese – aquela “mágica verde” que revolucionou a vida terrestre.
- A cooperação celular que levou à vida multicelular, transformando diversas células em um único organismo (eles realmente aprenderam a trabalhar juntos!).
- Diversos comportamentos animais inovadores.
- Minerais: no começo do sistema solar, havia poucas dezenas de tipos de minerais na Terra; hoje, são quase 6.000! Uma proliferação digna de mercado de pulgas cósmico.
E não para por aí! Após o Big Bang, as primeiras estrelas surgiram a partir de apenas dois elementos, hidrogênio e hélio. Elas criaram cerca de vinte elementos químicos mais pesados, e então, gerações futuras de estrelas, utilizando essa diversidade inicial, produziram quase uma centena de novos elementos. Fisicamente poético.
Darwin está desatualizado? Calma lá!
O Professor Robert M. Hazen, que supervisionou os trabalhos, explicou: Darwin descreveu com maestria a evolução nos reinos vegetal e animal via seleção natural, as inúmeras variações e diferentes configurações dos seres vivos. Mas, segundo Hazen, a teoria darwiniana seria um caso específico e importantíssimo de um fenômeno muito mais amplo e universal.
Michael L. Wong, astrobiólogo e primeiro autor, reforçou: “O universo gera novas combinações de átomos, moléculas, células, etc. As combinações estáveis que conseguem gerar mais novidades continuarão evoluindo”. Ou seja, vale para pedras, bactérias e até futuras civilizações extraterrestres (se existirem, claro!).
A nova lei lembra um pouco o famoso segundo princípio da termodinâmica, aquele da entropia – que diz que o “desordem” de um sistema isolado só tende a aumentar. Ou seja, enquanto o caos cresce por um lado, por outro emergem sistemas cada vez mais complexos e organizados. Universo bipolar? Nem Freud explica.
Um convite ao debate científico
Grande parte das leis naturais – sobre forças, movimento, gravidade, eletromagnetismo, energia – foi estabelecida há mais de 150 anos. A chegada desta nova proposta promete agitar discussões, já que a equipe inclui três filósofos das ciências, dois astrobiólogos, um especialista em dados, um mineralogista e um físico teórico. Diversidade garantida!
Stuart Kauffman, do Instituto de Biologia dos Sistemas (Seattle), já antecipou: “Neste momento do desenvolvimento dessas ideias, assim como nas discussões do século XIX sobre ‘energia’ e ‘entropia’, um debate aberto e amplo é essencial”. Prepare a pipoca, porque vem discussão por aí!
Ah, e vale aquele lembrete típico dos professores de metodologia científica: uma teoria só é científica se gerar pelo menos uma previsão bem definida, que possa ser testada e até refutada por experimentos concretos. Fica o aviso para os entusiastas e os céticos de plantão.
No final das contas, se essa lei realmente vai “mudar tudo o que sabemos” ou apenas abrir novas perguntas, só o tempo e os experimentos dirão. Mas pensar além do óbvio sempre foi parte do jogo científico. E cá para nós – o Universo agradece a nossa inquietação!