Sobre nós Menções legais Contato

Cientistas falam em nova força misteriosa: tudo o que sabemos até agora

Uma quinta força fundamental no Universo? Antes de preparar seu discurso para o Nobel, vamos com calma: a empolgação é grande, mas a ciência pede prudência!

O que há de novo: a misteriosa X17

Recentemente, vários meios de comunicação internacionais divulgaram que uma equipe de pesquisa húngara teria detectado, com experimentos, a prova de uma quinta força fundamental no Universo. Isso mesmo: além das conhecidas gravidade, eletromagnetismo, força nuclear forte e força nuclear fraca, surge no horizonte científico a possibilidade de uma força desconhecida, intermediada por uma partícula chamada X17. Mas será que é hora de reescrever os livros de física?

Respirando fundo para não sair correndo para a sala de aula com novas teorias, vejamos os fatos. O chamado Modelo Padrão da física moderna já identifica 12 partículas fundamentais e quatro forças essenciais. Essas quatro forças governam todo o comportamento do Universo até onde conseguimos entender. A intromissão de uma quinta força seria uma revolução digna de virar filme de ficção científica — mas a realidade, como muitas vezes acontece, gosta de pregar peças.

Da anomalia ao entusiasmo (e à cautela!)

O ponto de partida dessa história é 2016. Naquele ano, a mesma equipe húngara publicou na revista Physical Review Letters um trabalho sobre uma estranha anomalia no comportamento do isótopo radioativo berílio-8. Em um acelerador de partículas, ao partir esse núcleo a grande velocidade, foi detectado um clarão de luz. A surpresa veio ao notar que, a partir de certo nível de energia, esse clarão se dividia em um elétron e um pósitron — duas partículas que deveriam se afastar formando um ângulo definido pelas leis da conservação de energia. Só que o ângulo detectado era “anormal”.

Eis que surge a X17: para os cientistas, uma partícula até então desconhecida, com cerca de 17 megaelétronvolts (33 vezes a massa do elétron, mas vivendo só uma fração de segundo), poderia explicar o fenômeno. Suas características não batiam com nenhuma das quatro forças já conhecidas, e tampouco com o hipotético gráviton (a partícula que alguns esperam ser responsável pela gravidade).

Em novembro de 2019, a equipe decidiu repetir o experimento, desta vez com átomos de hélio. Resultado? Mais uma vez, um clarão estranho e um ângulo “anormal” de afastamento entre elétron e pósitron. Ou seja, a partícula-mistério persistiu.

Entre entusiasmos e ceticismos (com boas razões!)

  • Como alertou o astrofísico americano Ethan Siegel, escrevendo para a Forbes, a anomalia não parece ser uma simples flutuação estatística.
  • Porém, daí a concluir que estamos diante de uma nova partícula, é outro salto — perigoso, segundo o próprio.
  • Siegel lembra que descobrir uma anomalia em um só local, com o mesmo equipamento, pela mesma equipe, não configura descoberta robusta. Ciência exige confirmação independente!
  • Outra falha destacada: problemas nos procedimentos de calibração e análise dos experimentos. Por exemplo, o gráfico apresentado pela equipe apresenta ajustes ruins em certos intervalos de ângulo (100° a 125°). Uma calibração inadequada pode gerar resultados ilusórios.
  • Mais: se a partícula X17 realmente existisse, ela já deveria ter aparecido nos muitos experimentos anteriores feitos com colisores de léptons (elétrons e pósitrons) durante a busca pela matéria escura. Até agora, nada.

O histórico da equipe húngara também pesa: esta seria, no mínimo, a quarta vez que eles anunciam a descoberta de uma nova partícula (as anteriores, de 2001, 2005 e 2008, acabaram sendo desacreditadas).

A postura dos cientistas internacionais é clara e direta: até que outra equipe, em laboratório diferente, reproduza os resultados usando métodos independentes, a recomendação é, em tom científico e cordial, desconfiar até segunda ordem.

O veredito da física: ceticismo, mas sem fechar a porta

Diante de tantos alertas, o leitor curioso pode perguntar: e se for verdade? Se for, será uma revolução — mas a ciência, com todo o seu rigor, já viu de tudo, inclusive neutrinos que, por erro de fiação (!), pareciam viajar mais rápido que a luz.

Fatos antes da empolgação! Para Ethan Siegel e outros colegas renomados, como Jesse Thaler (MIT) e Yves Sirois (um dos “pais” do bóson de Higgs), as explicações da equipe húngara são frágeis e necessitam robusta confirmação antes de reescrevermos os fundamentos do Universo.

Enquanto ninguém mais detecta diretamente a X17, o conselho dos especialistas fica:

  • desconfie de anúncios prematuros;
  • aguarde confirmações independentes;
  • e, claro, mantenha o ceticismo saudável (mas pronto para um susto cósmico, quem sabe logo mais!).

A física segue aguardando com o olhar atento — e nós, com a imaginação pronta para rever tudo… se a X17 resolver aparecer para valer.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.