“Não se trata de voltar ao passado e negar a tecnologia, mas de compreender como nos relacionarmos de forma saudável com aqueles que nos rodeiam e como podemos usar a tecnologia para melhorar a nossa qualidade de vida”
Ansioso por recuperar um relacionamento “saudável” com os outros, o presidente do Chile Gabriel Boric anunciou que vai abrir mão da internet no celular. “Decidi iniciar uma transição tecnológica, comprei um celular sem internet”, disse o presidente ao inaugurar a edição 2025 do “Congreso Futuro”. “Não se trata de voltar ao passado e negar a tecnologia, mas de compreender como nos relacionarmos de forma saudável com aqueles que nos rodeiam e como podemos usar a tecnologia para melhorar a nossa qualidade de vida”, especificou Boric, mostrando o recém-criado telemóvel modelo adquirido, longe dos smartphones mais modernos. O presidente falou com “orgulho” da “confiança” e das “expectativas” que os chilenos têm em relação à ciência e à tecnologia, disciplinas que nos permitem elevar “o nosso olhar”. Esta última expressão “não é apenas metafórica”, disse Boric: “nesta sala, na primeira fila, estão dezasseis pessoas”. Destes, “onze ficavam olhando para o celular o tempo todo. E entre os funcionários do governo contei cerca de dez. Convido-vos a olhar para cima”, porque é muito difícil pensar em conseguir concentrar-se “e ouvir o que o nosso interlocutor diz, se entretanto acompanhamos as notícias ou vemos o WhatsApp”.
Não se trata de “acusar ninguém”, continuou Boric, reconhecendo que é o primeiro a cair nestes comportamentos. “Mas acho importante refletir: onde estamos, quando chegamos? É possível estar em vários lugares ao mesmo tempo e aproveitar todos eles? Ou ter uma experiência de reflexão sobre o que está sendo discutido, se não estivermos presentes na realidade?”, questionou o presidente. “Para mim pessoalmente, esta necessidade predominante de querer acompanhar tudo ao mesmo tempo custa-me muito. Percebo isso quando perco apenas um segundo de uma discussão importante porque estou conversando com outro ministro para tentar resolver um problema.” Um tema que se amplifica no contexto familiar, continuou Boric, lembrando o nascimento iminente de um filho, evento para o qual também se prepara com a compra do telemóvel “fora de moda”.
