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A votação presidencial na Bolívia no domingo, rumo ao retorno das forças conservadoras

Na última pesquisa eleitoral, realizada pelo instituto Cismori, Jorge Quiroga aparece na liderança com 44,9 por cento dos votos, superando Rodrigo Paz a quem são creditados 36,5 por cento dos votos

No domingo, 19 de outubro, votaremos na Bolívia para o segundo turno presidencial: com dois candidatos conservadores, o resultado das eleições marcará o fim da esquerda que governou o país durante cerca de 20 anos com o Movimento ao Socialismo (Mas). O ex-presidente está competindo Jorge “Tuto” Quiroga, por Alianza Libre, e Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (Pdc). Duas figuras semelhantes em alguns aspectos, como a política externa: ambas propõem rever a relação com os Estados Unidos, derrubando a posição do país andino no continente latino-americano. Internamente terão que encontrar a receita certa para resolver a crise económica devido à escassez de dólares e de combustível, e evitar um cenário de fortes dissidências e mobilizações sociais. Na última pesquisa eleitoral, realizada pelo instituto Cismori uma semana após a votação, Quiroga aparece na liderança com 44,9 por cento dos votos, superando Paz a quem são atribuídos 36,5 por cento dos votos. Se Jorge “Tuto” Quiroga, ex-chefe de Estado entre 2001 e 2002, é conhecido dos cidadãos, Paz, candidato do Partido Democrata Cristão (Pdc) e antigo presidente da Câmara de Tarija, foi a verdadeira surpresa da primeira volta eleitoral. Em todas as sondagens realizadas antes da votação de Agosto, nunca ultrapassou os dez por cento, mas conseguiu captar a preferência do eleitorado rural, normalmente mal reflectido na análise política. O papel do seu vice-candidato também é avaliado como importante, Edmer Lara, ex-tenente da polícia que ficou famoso pelas denúncias online contra a corrupção e a favor da transparência. O acontecimento eleitoral é também um dos mais observados a nível internacional: entre outras, estão presentes as missões de observação da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia. Aproximadamente 7,5 milhões de pessoas são chamadas a votar, além de 369 mil residentes no exterior em 22 países.

No último debate eleitoral, a 12 de outubro, os dois candidatos esclareceram a sua proposta política sobre questões centrais como a economia, a autonomia energética e a justiça. A visão económica de Paz está centrada no “capitalismo popular” e na descentralização, enquanto Quiroga defende a máxima abertura económica e a defesa do crédito estrangeiro e da propriedade individual. Paz reconhece que o Estado boliviano se encontra numa condição de “isolamento” económico, com crescimento bloqueado, e propôs uma amnistia fiscal e uma redução de impostos para reactivar a produção e oferecer apoio aos pequenos empresários. Um modelo definido como “capitalismo para todos”, que visa “redistribuir” os lucros em 50 por cento entre as regiões e o governo central. Paz sublinhou que o seu programa económico não inclui a colaboração com o Fundo Monetário Internacional (FMI), opção sugerida por Quiroga.

O antigo presidente – no cargo de 2001 a 2002 – ilustrou um plano de 12 mil milhões de dólares e três objectivos prioritários: eliminar filas de combustível, conter os preços elevados e “trazer dólares” para o país. Quiroga destacou a importância de receber “apoio internacional” do FMI e do Banco Mundial, mas também do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ambos, com soluções diferentes, apontaram a estabilidade como a principal necessidade da Bolívia. Paz defendeu a unidade nacional como um “antídoto à polarização” e prometeu “tolerância zero” contra o racismo, liberdade de circulação e respeito pela propriedade privada, bem como continuidade com bônus sociais, enquanto Quiroga apelou a não “desperdiçar gastos públicos” e a conter a inflação através da criação de empregos através de projetos de água potável e irrigação.

No tema justiça, o ex-presidente Quiroga propôs uma reforma “baseada na meritocracia” e na digitalização dos julgamentos, bem como penas cumulativas. Por sua vez, Paz apelou a “uma cimeira nacional para a reforma da justiça” e a maiores recursos financeiros para o sector. Além disso, Paz gostaria de modernizar a polícia nacional, tornando-a “mais profissional e transparente”. A questão da energia também foi abordada: enquanto Paz falava de uma lei sobre hidrocarbonetos, onde as regiões participam diretamente, e pedia a transformação da empresa nacional de hidrocarbonetos (YPff) numa empresa de serviços “livre de corrupção”. Sobre o tema do lítio, em particular, Paz traçou um modelo de investimento misto que também inclui a proteção ambiental e fortalece o turismo. Quiroga, no entanto, falou de um “renascimento energético” com a criação de uma indústria nacional de baterias de lítio e de uma “revolução de propriedade liberal” a ser implementada através da distribuição de 1,5 mil milhões de dólares em acções entre os cidadãos. Finalmente, o antigo chefe de Estado prometeu reduzir o IVA para 10 por cento.

Segundo dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), com uma margem de erro de 0,5 por cento, na primeira volta realizada a 17 de Agosto a participação eleitoral foi de 88,89 por cento: 6.464.043 eleitores entre 7.937.138 eleitores elegíveis. Segundo dados do TSE, Paz obteve um total de 1.717.532 preferências, o equivalente a 32,06 por cento dos habilitados a votar, enquanto Quiroga parou em 1.430.176 votos (26,7 por cento). Na terceira posição ficou o empresário Samuel Doria Medina, da Alleanza Unità, com 1.054.568 votos (19,69 por cento). Foi significativa a proporção de votos não atribuídos na primeira volta, excluídos do cálculo do resultado final mas potencialmente utilizáveis ​​na segunda volta: os votos inválidos foram 1.371.049, o equivalente a 19,87 por cento do total, enquanto 172.835 foram votos em branco (2,5 por cento).

Quanto à composição do próximo parlamento, segundo estimativas preliminares fornecidas pela empresa Cismori no final de agosto, nenhum partido terá maioria absoluta enquanto o Mas poderá encolher a ponto de quase desaparecer. O melhor resultado deveria ser o do PDC, que teria pelo menos 45 deputados, de um total de 130, e 13 dos 36 senadores. Números que não permitem o controle de nenhuma das Câmaras e sugerem um governo de coalizão. O segundo maior grupo será o do partido Libre, com pelo menos 37 deputados e 11 senadores. A terceira força parlamentar será a da aliança Unità, partido que apostou no empresário Samuel Medina Doria como presidente: neste caso estamos a falar de 28 deputados e seis senadores. Quanto ao Mas – dilacerado pelo confronto entre os seguidores de Morales e os apoiadores do presidente cessante, Luis Arce -, parece de momento garantir apenas um assento na Câmara.

Beatriz Marques
Beatriz Marques
Como redatora apaixonada na Rádio Miróbriga, me esforço todos os dias para contar histórias que ressoem com a nossa comunidade. Com mais de 10 anos de experiência no jornalismo, já cobri uma ampla gama de assuntos, desde questões locais até investigações aprofundadas. Meu compromisso é sempre buscar a verdade e apresentar relatos autênticos que inspirem e informem nossos ouvintes.