Faixa Atual

Título

Artista

Background

Espetáculo de rua “Vozes ao Alto” e Xutos e Pontapés celebram revolução dos cravos em Santiago do Cacém

Escrito por em 23 de Abril, 2024

Os 50 anos do 25 de Abril vão ser comemorados, em Santiago do Cacém, com o espetáculo de rua “Vozes ao Alto” que honra a memória e envolve gerações nascidas após o 25 de abril de 1974.

 

O espetáculo artístico de rua “Vozes ao Alto”, que vai percorrer a cidade de Santiago do Cacém, entre o Jardim Municipal (20:30) e o Parque Verde da Quinta do Chafariz (22:00), envolvendo mais de 300 figurantes, conduz o público através de vários acontecimentos históricos que testemunham a resistência e a luta da população local por melhores condições de vida.
Numa caminhada ao longo do último século que tem como ponto de viragem a revolução do 25 de Abril de 1974 não faltarão histórias para recordar, contou o encenador do espetáculo, Luís Cruz.

“Queremos recordar o que aconteceu antes [do 25 de Abril] em que se tivesse manifestado a força popular enquanto motor de transformação da história local e, durante a nossa pesquisa, identificámos uma série de episódios muito interessantes”, explicou.

Entre eles está um episódio ocorrido em 1941, durante a 2.ª Guerra Mundial, em Ermidas-Sado, em que a população se debatia “com comida racionada, miséria e falta de trabalho”.

Nessa altura, recordou, em Ermidas-Sado, “que tinha sido criada a propósito da construção da linha de ferro, havia uma classe operária de gente muito numerosa” que, “no inverno”, vivia com “ menos trabalho” e tinha “muita dificuldade económica”.

Para contornar a miséria do povo, “um dos proprietários de Ermidas autorizou as pessoas da localidade a apanharem os tacos de cortiça, venderem os tacos e ficarem com o dinheiro para fazerem face à sua miséria”.

“Só que como não havia vedações, as pessoas apanharam os tacos daquela propriedade e noutras por ali fora. Os outros donos não acharam muita piada, chamaram [as autoridades] e foram presos 120 homens”, disse.

Perante esta situação, “as mulheres que ficaram numa situação ainda pior do que estavam antes”, decidiram “organizar-se e ir a pé de Ermidas-Sado até Santiago do Cacém e acamparam ostensivamente em frente à cadeia”.

“O escândalo e o impacto da sua revolta foi tal que conseguiram que os tacos fossem vendidos e lhes fosse atribuído o dinheiro e que grande parte dos seus maridos fossem libertados”, adiantou.

É com a “recriação deste primeiro momento de vitória popular” que arranca o espetáculo que junta a comunidade local e várias associações do concelho que dão corpo a uma viagem sensorial, com várias instalações, ao qual se associa um teia de acontecimentos audiovisuais que transportam o público pelas portas que abril abriu.

“A partir daí começa uma viagem pela história de Portugal até ao 25 de Abril. Vamos atravessar um fase relacionada com a guerra colonial em que fizemos uma compilação de várias atas da câmara em que há apelos à participação das pessoas de bem de Santiago do Cacém para organizarem eventos para fazerem face às despesas da guerra”, relatou.

Para a construção do espetáculo, o encenador contou também com a ajuda de historiadores locais com José Matias, Gentil Cesário e Vítor Barata.

“Ao longo dos anos têm feito pesquisas no Arquivo Histórico e nas Atas do município e forneceram todos os testemunhos em que nos baseamos para construir este guião”, afirmou.

De acordo com Luís Cruz, o “Vozes ao Alto” vai também recriar “um diálogo entre três mulheres que recebem a noticia da morte de um parente das Relvas Verdes que morreu na guerra colonial, e que foram proibidas de chorar porque não podiam manifestar emoções negativas em relação à guerra”.

“Temos um vídeo a partir de uma recolha de fotografias de soldados do município que estiveram em África”, entre outros.

Uma vez chegado à atualidade, o espetáculo fala sobre os perigos da democracia, a relação das pessoas “com os ecrãs” e à mercê de “noticias falsas e discursos de ódio”, realçando “a perda do espírito de participação cívica”, acrescentou.

No percurso surgem “vários edifícios emblemáticos na história de Santiago do Cacém” como a cadeia, os Paços do Concelho, o café Periquito ou o antigo edifício do Grémio da Lavoura “que foi palco de um episódio que quase [deu origem] a uma guerra civil, em 1975”, e que vai ser recriado no espetáculo.

O espetáculo terminará, no Parque da Quinta do Chafariz, com “todos os participantes a entoarem a música Grândola, Vila Morena” e, em simultâneo, serão recordadas “figuras históricas do município de Santiago do Cacém”.

“O público irá passear porque o espetáculo é para ser visto a andar. As pessoas serão guiadas pelas personagens que vão saindo dos diferentes quadros do espetáculo e serão atraídos por vídeos e sonoridades diferentes que vão surgindo no momento a seguir”, explicou.

Após o espetáculo de rua o público é convidado para o grande concerto, no Parque de Feiras Exposições, com os Xutos e Pontapés e ouvir os grandes sucessos da maior banda de rock portuguesa que marcam várias gerações.

Fogo de artifício e a música de Tiago M e Prosa completam a celebração da revolução dos cravos e da Liberdade na noite de 24 para 25 de abril, em Santiago do Cacém.


error: www.radiom24.pt