PR adverte que há “várias Odemiras” para as quais é preciso olhar em Portugal
Escrito por Helga Nobre em 25 de Dezembro, 2022
O Presidente da República disse ontem em Odemira que o país “acordou” para a necessidade de acelerar a regularização dos imigrantes em Portugal e melhorar as suas condições de vida, considerando que a resposta “está a ser dada” e está a ser “muito rápida”.
“As pessoas acordaram um bocadinho para situações que tinham de repente aumentado de forma brutal com a vinda de tantos imigrantes, [um assunto que] eles próprios falaram, a documentação. Em todos os domínios da vida deles é uma documentação às vezes burocrática e pesada, é na vida de todos nós, agora imaginem para quem não fala a língua”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República falava aos jornalistas durante uma visita à vila de Odemira (Beja), onde esteve acompanhado pela ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, tendo contactado com a população migrante do concelho, onde estão situadas muitas explorações agrícolas, que empregam milhares de pessoas, oriundos sobretudo da Ásia.
Questionado sobre a atuação das autoridades competentes no que concerne à situação de muitos destes migrantes, Marcelo Rebelo de Sousa disse considerar que “as pessoas perceberam que tinham de mudar de comportamento”, perante um “desafio que era novo” e “enorme”, tendo em vista a necessidade de assegurar a dignidade da vida dessas pessoas.
“E eu penso que se acordou para isso. Toda a gente, os portugueses, as empresas, os próprios [migrantes], e nesse sentido a resposta está a ser dada. E aí, o papel da autarquia, do presidente da Câmara é fundamental. Não pode ser só Estado à distância. A resposta está a ser dada, está a ser muito rápida”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Odemira cerca das 14:20, tendo sido recebido em palmas por alguns cidadãos que o aguardavam à porta da Câmara de Odemira, tendo iniciado a sua visita à vila assistindo a uma peça de teatro imersivo sobre migrações, no Centro em Rede de Inovação do Artesanato Regional.
Após a sessão, que incluiu o visionamento de um pequeno documentário em vídeo e um percurso pelo centro, o chefe de Estado contactou com representantes das comunidades migrantes residentes em Odemira, sobretudo cidadãos naturais de países asiáticos como o Nepal, a Tailândia e a Índia, mas também europeus, como a Roménia e Ucrânia, entre outros.
Os migrantes elogiaram a forma como foram acolhidos em Portugal, mas apresentaram algumas queixas relativas à condição em que vivem, nomeadamente devido à falta de habitação e de transportes públicos em Odemira.
Segundo o presidente da autarquia, Hélder Guerreiro, de acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de 30 de dezembro de 2021, residiam oficialmente em Odemira 10.970 estrangeiros, num total de 80 nacionalidades, o que representa 7% da população do concelho.
De acordo com o autarca, já existem três mil lugares licenciados para a construção de habitações nas explorações agrícolas, mas o processo tem sofrido atrasos, devido ao aumento do custo da matéria-prima.
Admitindo que o problema “é maior” em Odemira, porque “são milhares e milhares e, em algumas épocas do ano, ainda aumenta” o número de migrantes, Marcelo Rebelo de Sousa congratulou-se por já se ter dado início ao processo de construção de casas que, embora atrasado, deverá avançar “nos próximos meses e anos”.
Segundo Hélder Guerreiro, embora a maioria dos migrantes que vivem em Odemira trabalhem na agricultura, muitos estão atualmente, também, a trabalhar no setor do turismo.
O autarca, Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Catarina Mendes tiveram de seguida um encontro com presidentes de junta de freguesia na Câmara Municipal, de onde seguiram para um jardim público para assistirem a um momento cultural.
Marcelo diz que “há várias Odemira” espalhadas pelo país
Antes, em Lisboa, o Presidente da República advertiu que há “várias Odemiras” espalhadas pelo país que necessitam de atenção e que a “inflação não é só números” e representa um corte nos salários de muitas pessoas.
“Os imigrantes são próximos nossos. Agora terminado este nosso encontro parto para Odemira. E vou a Odemira porque tinha prometido lá ir até ao fim do ano. Nós temos várias Odemiras no nosso país, todos os países infelizmente têm várias Odemiras, que têm aspetos positivos e aspetos complicados”, sustentou Marcelo Rebelo de Sousa, durante a cerimónia de apresentação da “Luz da Paz de Belém”, pelo Corpo Nacional de Escutas, em Lisboa.
Perante um grupo de escuteiros, o chefe de Estado disse que é necessário “ir a esses próximos, que vêm de não sei quantos países, falam não sei quantas línguas, têm não sei quantas culturas” e são “aqueles que mais necessitam”.
Já a pensar no ano que aí vem, Marcelo Rebelo de Sousa deixou uma advertência: “Estas crises batem fundo, a inflação não é só números.”
“A inflação significa um corte nos salários, um corte nos rendimentos, um empobrecimento. E quanto mais alta for, maior é esse empobrecimento. Esses que sofrem são uns próximos que têm de estar muito próximos do nosso pensamento e da nossa ação”, completou.
No último ano surgiram denúncias de imigrantes em Odemira, concelho no distrito de Beja, a viver em condições deploráveis e ‘acorrentados’ a redes de tráfico humano. Odemira tem uma das maiores comunidades de imigrantes do país, que, entre outras ocupações, trabalham na agricultura.
Odemira é o maior concelho do país em 2020 a população emigrante representava 40% do total.
Também houve denúncias de comportamentos abusivos por parte de elementos da GNR de Odemira contra imigrantes.