Livro “Dicas da Quinta” mostra projeto da Quinta da Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André
Escrito por Helga Nobre em 24 de Novembro, 2021
O livro “Dicas da Quinta 2 – Pedagogicamente falando”, lançado recentemente pelo Instituto das Comunidades Educativas (ICE), dá a conhecer um projeto educativo diferenciador que aposta nas experiências como forma de aprendizagem, na educação ambiental e na ligação à comunidade.
O livro, que resulta do trabalho desenvolvido na Quinta de Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André, no Monte do Paio, com os alunos das escolas do concelho de Santiago do Cacém, foi apresentado, dia 20 de novembro, na Biblioteca Municipal Manuel José “do Tojal”, em Vila Nova de Santo André.
A professora e coordenadora do projeto, Isabel Pereira, explicou que o livro “Dicas da Quinta 1” foi “feito pelas crianças com alguns recados aos adultos, já o segundo volume destina-se a professores e pais.”
A elaboração dos dois livros surgiu porque “sentimos a necessidade de fazer um historial deste projeto que nasceu no ano 2000”, acrescentou.
No livro “Dicas da Quinta 2”, que contou com o apoio do município, encontra-se informação sobre o funcionamento do projeto, as atividades que se desenvolvem nas aulas de campo, os percursos pedestres e o que neles é explorado, a documentação de apoio que é fornecida aos professores e as fichas de registo.
Tem também um capítulo dedicado ao método experimental e experimentação, “que é um dos aspetos que privilegiamos no projeto”, e uma mostra das atividades em sala de aula após a realização do trabalho de campo.
De acordo com a coordenadora, o segundo volume destina-se aos professores e é um documento de reflexão.
“Senti que devia uma explicação do projeto a todos aqueles que o têm desenvolvido ao longo destes anos, mas também, pretendo que seja um documento de apresentação e reflexão para os colegas que tomam contacto com ele pela primeira vez”, frisou.
Para a vereadora da Educação, Sónia Gonçalves, as aprendizagens desenvolvidas com os alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico, através do projeto da Quinta de Educação e Ambiente, “está muito focado na educação ambiental e na proximidade à comunidade local”.
“Participar nas atividades desenvolvidas no Monte do Paio, como aprender a fazer pão ou a tratar da horta e depois levar esses ensinamentos para a sala de aula, torna ainda mais significativas essas aprendizagens e a escola enriquecedora”, realçou.
A autarca destacou também que “este livro é um excelente guião de trabalho para professores e educadores”.
O livro pretende, ainda, mostrar como “a interdisciplinaridade, a flexibilização curricular e a aquisição de competências são práticas neste nível de ensino”, observou Isabel Pereira.
Segundo a docente, a questão das competências “é a que mais desenvolvemos no projeto, porque muitas vezes não estamos preocupados se a matéria que estamos a abordar faz ou não parte do currículo do 1.º ciclo, uma vez que o nosso objetivo era, e é, que os nossos alunos adquirissem determinadas competências”.
A obra dirige-se igualmente aos pais, “porque é muito importante darmos a conhecer o que fazemos. As crianças quando visitam o Monte do Paio, entre o passear e o brincar, experienciam muitas outras coisas, e há que perceber que esta é uma forma diferente de aprendizagem”, referiu.
A abordagem do Professor Dr. Fernando Ilídio, da Universidade do Minho, convidado para a sessão de apresentação do livro, foi no sentido de colocar a criança no centro do processo educacional.
“O que acho mais extraordinário na educação é a oportunidade de as crianças terem autoria no que escrevem, falam, desenham e pintam, mas a escola não tem sido propícia à autoria das crianças”, notou.
Para o catedrático, este livro “mostra-nos um esforço de construção curricular e pedagógica coletiva que envolve crianças e adultos. E nesta perspetiva cria-se um sentido de contribuir para o bem comum, que é uma ideia muito fragilizada nos nossos dias”.
“Este tipo de trabalho que se realiza nas escolas é fundamental na promoção de uma educação como prática de liberdade, porque não é possível exercer o pensamento crítico se não for em liberdade”, concluiu Fernando Ilídio.
O projeto da Quinta de Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André é um território educativo onde se “entrecruzam aprendizagens formais e informais, funcionando como um espaço de trabalho e de reconhecimento das potencialidades da Natureza e da vida rural que se oferece a crianças e jovens do município”.