Espetáculo do Teatro do Mar “EU FÊMEA” explora “invisibilidade da mulher na História”
Escrito por Helga Nobre em 22 de Junho, 2022
Um espetáculo que explora “a invisibilidade da mulher na História”, tendo como cenário uma estrutura alusiva a um ‘peep show’, é apresentado, entre quarta e sexta-feira, em Sines, num total de 12 sessões.
A criação artística da companhia Teatro do Mar, intitulada “EU FÊMEA”, reflete sobre “a herança física, cultural e espiritual” da mulher, e é apresentada em três sessões diárias, de 20 minutos, às 21:30, 22:00 e 22:30, no quintalão do Castelo de Sines.
A ideia para o espetáculo surgiu durante um “trabalho de investigação sobre o papel da mulher na história” que pôs a descoberto “a sua invisibilidade em tudo o que é registo histórico”, disse a encenadora e diretora artística do Teatro do Mar, Julieta Aurora Santos.
“A mulher foi remetida para a esfera privada”, onde não existem “registos históricos”, apenas “sobre a esfera pública que sempre foi ocupada pelos homens, os únicos com acesso ao conhecimento”, disse.
A “humanidade perdeu muito pelo facto disto ter acontecido, se pensarmos quantas mulheres geniais podem ter ficado asfixiadas no silêncio das suas casas, tomando apenas conta das suas famílias”, questionou.
No espetáculo, os promotores desafiam o público a entrar numa “estrutura circular”, simulando um ‘peep show’, composta por “20 cabines individuais”, onde é convidado “a colocar uns auriculares” e a “vivenciar a experiência de visionar o que acontece lá dentro, num registo completamente intimista”, explicou.
“A atriz que está dentro da estrutura não tem qualquer contacto físico ou visual com o público, o que torna a experiência muito particular para ambos”, frisou.
Para a diretora artística da companhia de teatro sineense, continua a fazer “sentido falar sobre a invisibilidade feminina”, porque “infelizmente ainda há diferenças muito substanciais do papel do homem e do papel da mulher, na sociedade ocidental, para não falar de outros universos e culturas onde a mulher é completamente asfixiada”.
A questão da invisibilidade da mulher “também está ligada à história do véu, da cobertura do corpo da mulher e o corpo como objeto de vergonha”, sublinhou.
De acordo com Julieta Aurora Santos, o espetáculo sem texto, “é uma performance física” que procura “evidenciar que [as mulheres] têm de estar cobertas, silenciadas”, assim como “a necessidade de libertação e afirmação de alguém que é um sujeito, independentemente, do género a que pertence”.
“É uma viagem na história, mas é uma viagem à interioridade da mulher quando nos expomos, porque somos herdeiras destes corpos silenciados e destes corpos mudos”, deixando uma herança que “se expressa numa necessidade enorme de exposição e de afirmação”, acrescentou.
Associados “ao erotismo e à pornografia” na história recente, os ‘peep show’, “eram, na verdade, no século XVII, espetáculos que aconteciam em caixas de dimensões diferentes”, para as quais “as pessoas espreitavam, através de janelas”, sendo “apresentadas em espaço público”, como feiras e praças, contou a encenadora.
“Foi um verdadeiro desafio trazer um universo tão intimista como este para o espaço público, mas também nos pareceu interessante que o espetador possa ter a possibilidade de assistir a uma performance com total foco e sem desvio de atenção”, concluiu.